Música

Axé

Não se trata exatamente um gênero ou movimento musical, mas uma rotulação mercadológica muito útil para que uma série de artistas da cidade de Salvador, que faziam uma fusão de ritmos nordestinos, caribenhos e africanos com embalagem pop-rock, tomassem as paradas de sucessos do Brasil inteiro a partir de 1992. Axé é uma saudação religiosa usada no candomblé e na umbanda, que significa energia positiva. Expressão corrente no circuito musical soteropolitano, ela foi anexada à partícula music pelo jornalista Hagamenon Brito para formar um termo que designaria pejorativamente aquela música dançante com aspirações internacionais.

Depois que Daniela Mercury chegou ao Sudeste com o show que a estouraria nacionalmente, O Canto da Cidade, tudo o mais que veio de Salvador começou a ser chamado de axé music. Em pouco tempo, os artistas deixaram de se importar com a origem debochada do termo e passaram a dele se aproveitar. Por exemplo, a Banda Beijo, do vocalista Netinho, simplesmente intitulou de Axé Music o seu disco de 1992. Com o impulso da mídia, essa trilha sonora da folia de Salvador rapidamente se espalhou pelo país (com os carnavais fora de época, as micaretas) e fortaleceu-se como indústria, produzindo sucessos o ano inteiro ao longo dos anos 90. Testadas no calor da multidão na Praça Castro Alves e na Ladeira do Pelô, as músicas dos blocos e bandas responderam por alguns dos grandes êxitos comerciais da música brasileira na década. O ano de1998 foi, particularmente, o mais feliz para os baianos: Daniela Mercury, Banda Eva, Chiclete com Banana, Araketu, Cheiro de Amor e É o Tchan venderam juntos nada menos que 3,4 milhões de discos.

Guitarras elétricas 

As origens do axé estão nos anos 50, quando Dodô e Osmar começam a tocar o frevo pernambucano em rudimentares guitarras elétricas (batizadas de guitarras baianas) em cima de uma Fobica (um Ford 1929). Nascia o Trio Elétrico, atração dos carnavais para a qual Caetano Veloso chamou a atenção em 1968 na música Atrás do Trio Elétrico. Mais tarde, Moraes Moreira, dos Novos Baianos, teria a idéia de subir num trio (que era apenas instrumental) para cantar – foi o marco zero da axé music. Paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu o da proliferação dos blocos afro: Filhos de Gandhi (do qual Gilberto Gil faz parte), Badauê, Ilê Ayê, Muzenza, Araketu e Olodum. Eles tocavam ritmos africanos como o ijexá, brasileiros como o maracatu e o samba (os instrumentos eram os das escolas de samba do Rio) e caribenhos como o merengue.

Com a cadência e as letras das músicas de Bob Marley nos ouvidos, o Olodum criou o samba-reggae, música com forte caráter de afirmação da negritude, que fez sucesso na Salvador dos anos 80 com artistas como Lazzo, Tonho Matéria, Gerônimo e a banda Reflexus – as músicas chegavam ao Sudeste em discos na bagagem dos que lá passavam férias. Logo, Luís Caldas (do trio Tapajós) e Paulinho Camafeu tiveram a idéia de juntar o frevo elétrico dos trios e o ijexá. Surgiu assim o deboche, que rendeu em 1986 o primeiro sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: Fricote, gravado por Caldas. A modernidade das guitarras se encontrava com a tradição dos tambores em mistura de alta octanagem.

Uma nova geração de estrelas aparecia para o Brasil: Lazzo, Banda Reflexus (do sucesso Madagascar Olodum), Sarajane, Cid Guerreiro (do Ilariê, gravado por Xuxa), Chiclete com Banana (que vinha de uma tradição de bandas de baile, blocos afro e trios elétricos) e Margareth Menezes, a primeira a engatilhar carreira internacional, com a benção do líder da banda americana de rock Talking Heads, David Byrne. Pouco tempo depois, o Olodum estaria sendo convidado pelo cantor e compositor americano Paul Simon para gravar participação no disco The Rhythm of The Saints.

Guinada para o pop 

Aquela nova música baiana avançaria mais ainda na direção do pop em 1992, quando o Araketu resolveu injetar eletrônica nos tambores, e o resultado foi o disco Araketu, gravado pelo selo inglês independente Seven Gates, e lançado apenas na Europa. No mesmo ano, Daniela Mercury lançaria O Canto da Cidade e o Brasil se renderia de vez ao axé. Aberta a porta, vieram Asa de Águia, Banda Eva (que nasceu do Bloco Eva e revelou Ivete Sangalo), Banda Mel (que depois assinaria como Bamdamel), Banda Cheiro de Amor, Ricardo Chaves e tantos outros nomes. A explosão comercial do axé passou longe da unanimidade. Dorival Caymmi reprovou suas qualidades artísticas, Caetano Veloso as endossou. Das tentativas de incorporar o repertório das bandas de pop rock, nasceu a marcha-frevo, que transformou sucessos como Eva(Rádio Táxi) e Me Chama (Lobão) em mais combustível para a folia.

Enquanto o axé se fortalecia comercialmente, alguns nomes buscavam alternativas criativas para a música baiana. O mais significativo deles foi a Timbalada, grupo de percussionistas e vocalistas liderado por Carlinhos Brown (cuja Meia Lua Inteira tinha estourado na voz de Caetano), que veio com a proposta de resgatar o som dos timbaus, que há muito tempo estavam restritos à percussão dos terreiros de Candomblé. Paralelamente à Timbalada, Brown lançou dois discos solos – Alfagamabetizado (1996) eOmelete Man (1998), que com sua autoral incorporação de várias tendências do pop e da MPB à música baiana, obteve grande reconhecimento no exterior. Além disso, ele desenvolveu um trabalho social e cultural de alta relevância entre a população da comunidade carente do Candeal, com a criação do espaço cultural Candyall Guetho Square, o grupo de percussão Lactomia (para formar uma nova geração de instrumentistas) e a escola de música Paracatum.

Enquanto isso, os nomes de sucesso da música baiana se multiplicavam: aos então conhecidos Banda Eva, Bamdamel, Araketu (que em 1994 vendeu 200 mil cópias do disco Araketu Bom Demais), Chiclete com Banana e Cheiro de Amor, juntaram-se o ex-Beijo Netinho e os grupos Jammil e Uma Noites, Pimenta N´Ativa e Bragadá.

Bunda music 

Foi em 1995, porém, que deu as caras o maior fenômeno comercial de Salvador. Em seu terceiro disco, o grupo Gera Samba estourou o sucesso É o Tchan, com a ajuda dos sacolejos das calipígias dançarinas Carla Perez (loura) e Débora Brasil (morena). Entre um "segura o tchan" e outro, a banda teve que mudar de nome, processado por um outro grupo, de um irmão do integrante Compadre Washington. Rebatizado de É o Tchan, o antigo Gera Samba inaugurou a face do axé que seria conhecida como bunda music, de ênfase nas coreografias libidinosas em detrimento à musica (que ainda assim trazia uma sólida base de samba de roda) e as letras. Com toda a faceshowbiz a que tem direito (realizaram-se concursos na TV para a escolha da morena e depois da loura que iriam substituir Débora e Carla), e uma fileira de sucessos produzidos em série (Dança do Bumbum, Dança da Cordinha, Ralando o Tchan, É o Tchan! no Havaí, A Nova Loira do Tchan...), o grupo bateu a barreira do milhão de discos vendidos.

Com o Tchan, disputaram público na segunda metade dos anos 90 nomes como Netinho (Milla, Fim de Semana), Araketu (Mal Acostumado) e Terrasamba (Liberar Geral, Carrinho de Mão), Banda Eva (Beleza Rara, Carro Velho), entre outros. A superexposição nos meios de comunicação e as pressões da indústria inevitavelmente levaram o axé ao esgotamento artístico e comercial. Em 1999, ano em que o pop ressurgiu como uma força, o gênero experimentou um significativo declínio nas vendagens de discos.


Músicas 

Ilê Ayê – Gilberto Gil
Fricote – Luís Caldas
Eu Sou Negão – Jerônimo
Salvador Não Inerte – Olodum
Madagascar Olodum – Banda Reflexu’s
Meia Lua Inteira – Caetano Veloso
O Canto da Cidade – Daniela Mercury
É o Bicho – Ricardo Chaves
Cara Caramba – Chiclete com Banana
Milla – Netinho
A Namorada – Carlinhos Brown
Água Mineral – Timbalada
É o Tchan – Gera Samba
Dança do Bumbum – É o Tchan
Liberar Geral – Terrasamba
Mal Acostumado – Araketu
Dança da Sensual – Banda Cheiro de Amor












Baião

"Eu vou mostrar pra vocês
como se dança o baião
e quem quiser aprender
é favor prestar atenção"
(Baião, Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira, 1946)



Como outros gêneros, o baião designou inicialmente um tipo de reunião festeira dominada pela dança. O folclorista Câmara Cascudo o associa aos termos "baiano" e "rojão". Este ultimo seria o pequeno trecho musical executado pelas violas no intervalo dos desafios da cantoria. Quem imprimiu o formato urbano (e portanto pop) ao gênero foi o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989). Imigrante pobre no começo da década de 40, Gonzaga passava o pires nos bordéis do Mangue carioca enquanto tirava na sanfona valsas, sambas e serestas de sucesso na época. Estimulado por frequentadores conterrâneos anexou a seu repertório "coisas do sertão", entre elas o baião. Com o primeiro parceiro o fluminense Miguel Lima compunha mais mazurcas, calangos e ritmos adjacentes. Associado ao compositor e advogado cearense Humberto Cavalcanti Teixeira (1916-1979) obteve o respaldo poético telúrico que lhe faltava. Mas Teixeira admitia que a idéia tinha sido do parceiro. Em depoimento ao pesquisador Miguel Angelo de Azevedo, o Nirez, reproduzido no livro Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga, de Dominique Dreyfus (Editora 34, 1996), ele garantiu que Gonzaga planejou meticulosamente o lançamento nacional do baião, junto com outros gêneros nordestinos.

O ritmo binário do baião, vestido por melodias dolentes muitas delas em modo menor, foi devidamente estilizado, amaciado para o paladar urbano pelo sanfoneiro. Antes dele, o cearense Lauro Maia (Teles, 1912-1950), autor entre outros do sucesso Trem de Ferro, gravado por João Gilberto, fez a primeira tentativa de emplacar um gênero nacional a partir do nordeste, através do balanceio, gravado com algum êxito pela dupla Joel e Gaúcho (Marcha do Balanceio) e dos Vocalistas Tropicais (Tão Fácil, Tão Bom).

O sucesso de Gonzaga na empreitada foi tão grande que ele desequilibrou o eixo da MPB do meio para o fim dos anos 40 até meados dos 50. Antes o mercado musical era lastreado no samba, marchinha, choro e outros produtos do centro cultural do país, o Rio. A bordo de sucessos monumentais como o supracitado Baião e mais Asa Branca, Juazeiro, Paraíba, Qui nem Giló, Respeita Januário, Sabiá, Vem Morena, Baião de Dois, Imbalança, Noites brasileiras e inúmeros outros (além de xotes, xamegos, toadas, cocos, xaxados e até maracatu), Gonzaga colocou o nordeste no mapa (inclusive das vendas) da MPB. No auge, as prensas da gravadora RCA (atual BMG) onde era contratado, trabalhavam quase exclusivamente para seus discos. Além de Teixeira, Gonzaga teve outro parceiro fixo, o médico pernambucano José de Souza Dantas Filho, o Zé Dantas (1921-1962), responsável por obras primas como a toada A Volta da Asa Branca, A Dança da Moda (referência ao sucesso do baião), Riacho do Navio, Vozes da Seca, Cintura Fina, Algodão e alguns dos relacionados acima.

Reinado 

De todo canto surgiam novos autores como o maranhense João do Vale, o pernambucano Luís Vieira, parceiros e fornecedores de repertório como o paulista Hervê Cordovil (Baião da Garôa), o cearense Guio de Moraes (No Ceará Não Tem Disso Não), Onildo de Almeida, João Silva, José Marcolino e a dupla carioca Armando Cavalcanti e Klecius Caldas, autora de Boiadeiroprefixo de seu programa na rádio Nacional. Além de inúmeros concorrentes do rei Gonzaga, o baião ostentava ainda uma rainha e uma princesa, respectivamente, Carmélia Alves e Claudette Soares. Outra a quem o soberano apadrinhou pessoalmente foi a pernambucana Inês Caetano de Oliveira, artista que estourou no nordeste com o nome de Marinês e sua Gente.

A síntese instrumental imaginada por Gonzaga para acompanhar o ritmo — sanfona (ou acordeon), zabumba (fazendo o baixo) e triângulo — virou epidemia. O pesado acordeon, difundido em academias como a do folclórico Mascarenhas (que chegava a reunir mil alunos nos finais de curso, no Maracanãzinho) também se espalhou. Vários ases da moderna MPB como João Donato, Eumir Deodato (que faria a bossa Baiãozinho), Edu Lobo e Milton Nascimento começaram na música digitando os foles do instrumento. Outros modernistas como o minimalista João Gilberto ("Bimbom/ é só isso o meu baião") e Lúcio Alves (Baião de Copacabana) repaginaram o estilo. Até Tom Jobim em sua fase pós-bossa passeou pelo gênero incorporando o refrão Do Pilar (de Jararaca) em O Boto, além do extemporâneo Pato Preto, gravado em seu ultimo disco, em 1994.

A partir do final dos 50, o baião entrou em declínio, mas Gonzaga foi reabilitado por uma geração nordestina que o ouvia no rádio — do paraibano Geraldo Vandré (que regravou Asa Branca como canção de protesto, em 1965) aos baianos tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, ávidos releitores de sua obra. Estudioso da música nordestina, o paulista Sérgio Ricardo utilizou o ritmo nas trilhas dos filmes "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (do cineasta Glauber Rocha) e em seu "A Noite do Espantalho", onde atuavam os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo. A estes se juntaria, na mesma década de 70, uma leva plugada de nordestinos reverentes ao mestre, de Fagner ao roqueiro Raul Seixas.

Influência na América 

O filho adotivo do rei do baião, Luiz Gonzaga Jr. seguiu outros rumos musicais embora tenha composto baiões de estirpe (Erva Rasteira), gravados pelo pai. Gonzagão (como passou a ser conhecido após o sucesso do filho) nomeou herdeiro artístico o sanfoneiro conterrâneo (de Garanhuns) José Domingos de Morais, o Dominguinhos. Mas este não se limitou ao formato fixo do baião, que gerou um subproduto de efêmera duração, a toada moderna do final dos anos 60 praticada por autores como Antonio Adolfo & Tibério Gaspar (Sá Marina, Juliana, Teletema), Danilo Caymmi, Paulinho Tapajós e Edmundo Souto (Andança). De passagem pelo Brasil como pianista da cantora Marlene Dietrich nos 50, o compositor americano Burt Bacharach também pagou tributo ao ritmo em hits como Walk on By e Do You Know The Way to San Jose.

O baião foi e é matriz de intervenções modernizadoras de Hermeto Pascoal (desde o Quarteto Novo), Edu Lobo, Egberto Gismonti, Guinga e inúmeros outros instrumentistas. Mais longinquo e miscigenado o gen do baião também contamina uma corrente nordestina que emergiu no Mpop do B dos 90, o paraibano Chico Cesar, o pernambucano Lenine e os maranhenses Zeca Baleiro e Rita Ribeiro. A perenidade do gênero foi definida por Gilberto Gil em De Onde Vem o Baião, de 1976: "debaixo do barro do chão/ da pista onde se dança/ suspira uma sustança sustentada/ por um sopro divino/ que sobe pelos pés da gente/ e de repente se lança/ pela sanfona afora".


Músicas 


Baião (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) – Luiz Gonzaga
Asa Branca (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) – Caetano Veloso
Paraíba (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) – Emilinha Borba
Juazeiro (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) – Os Cariocas
Vem Morena ( Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) – Alceu Valença
Respeita Januário (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira) – Luiz Gonzaga
Kalu (Humberto Teixeira) – Dalva de Oliveira
A Dança da Moda (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) – Luiz Gonzaga
Sabiá (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) – Luiz Gonzaga
A Letra I (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) – Elba Ramalho
Cabeça Inchada (Hervê Cordovil) – Carmélia Alves
Macaco Véio" (João do Vale/ J.B. de Aquino) – Marinês e Sua Gente
Delicado (Waldir Azevedo) – Waldir Azevedo
Carcará (João do Vale/ José Candido) – Maria Bethânia
O Ovo (Hermeto Pascoal/ Geraldo Vandré) – Quarteto Novo
Fica Mal Com Deus (Geraldo Vandré) – Geraldo Vandré
Louvação (Gilberto Gil) – Gilberto Gil
Ponteio (Edu Lobo/ Capinam) – Edu Lobo e Marília Medalha
Baião Malandro (Egberto Gismonti) – Egberto Gismonti
Baião de Lacan (Guinga/ Aldir Blanc) – Leila Pinheiro







Bossa nova

Oficialmente a bossa nova começou num dia de agosto de 1958 quando chegou nas lojas de discos brasileiras o 78 rotações de número 14.360 do selo Odeon do cantor João Gilberto com as músicas Chega de Saudade(Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor). Unanimemente reconhecido como papa do estilo, João tinha acompanhado ao violão um pouco antes a cantora Elizeth Cardoso em duas faixas do também inaugural Canção do Amor Demais (LP exclusivamente dedicado às canções da iniciante dupla Tom & Vinicius) com a célebre batida, sincopada no tempo fraco pelos bateristas. Para desembocar na revolução harmônica sintetizada na voz & violão do baiano nascido em Juazeiro, muitos acordes dissonantes (ironizados na canção manifesto Desafinado, de Tom e Newton Mendonça) foram disparados.

A avassaladora influência da cultura americana do Pós-Guerra combinada à influência do impressionismo erudito (Debussy, Ravel) e um inconformismo com o formato musical dos dós de peito acompanhados por regional disseminaram descontentes inovadores como os violonistas Garoto, Valzinho, Laurindo de Almeida, Luís Bonfá, o (então) acordeonista João Donato e principalmente o pianista e compositor Johnny Alf. Alguns deles (mais cantoras como Nora Ney e Doris Monteiro) reuniam-se em fã-clubes caseiros como os que tributavam Dick Farney & Frank Sinatra, Dick Haymes & Lucio Alves para cultuar seus mitos e ensaiar as mudanças.

Ao próprio Farney seria atribuído outro marco inaugural, a gravação camerística (com arranjo de Radamés Gnattali, também modernista) do samba canção Copacabana (João de Barro/ Alberto Ribeiro) em 1946. Seu rival Lúcio Alves integrava o Namorados da Lua, um dos muitos grupos vocais — como os pioneiros Os Cariocas — que sob influência dos congêneres americanos espalhavam arrojadas combinações harmônicas pela MPB pós-samba canção já em fase de modernização por autores como Dorival Caymmi (Marina, Nem Eu) e Tito Madi (Cansei de Ilusões, Não Diga Não). O tripé da nova bossa moldada por João assentava suas bases na densidade musical do compositor Antonio Carlos Jobim (ex-aluno do dodecafonista alemão Koellreuter), autor em meados dos 50 da inovadora Sinfonia do Rio de Janeiro (arranjos do mesmo Gnattali) e da provocante Teresa da Praia(ambas com Billy Blanco) e no brilhantismo poético do experiente diplomata Vinicius de Moraes (parceria iniciada na peça deste, Orfeu da Conceição, em 1956).

Sambalanço 

Paralelamente à ascensão da bossa, escalava as paradas o sambalanço, que sem chegar a constituir-se num movimento, injetou mais teleco-teco (como se dizia na época) no velho ritmo gestado na casa das tias baianas no centro do Rio no começo do século. Alguns fornecedores e expoentes do setor: Elza Soares, Miltinho (egresso do grupo vocal Os Namorados), Ed Lincoln (que tocava na boate Plaza, outro reduto da inaugural da bossa), Djalma Ferreira, Orlan Divo, Silvio Cesar, Luís Bandeira (autor de "Apito no samba"), Pedrinho Rodrigues, Luis Reis, Haroldo Barbosa, Luis Antonio, Jadir de Castro e João Roberto Kelly.

Mas a bossa era acima de tudo um movimento da emergência urbana do país na fase desenvolvimentista da presidência de Juscelino Kubitschek (1955-60) e concentrou-se no Rio em apartamentos da zona sul como o da futura cantora Nara Leão. Ela sediava em Copacabana encontros de jovens autores e músicos como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Sérgio Ricardo e Chico Feitosa, entre outros. Os shows do grupo começaram no ambito universitário (foi o primeiro movimento musical brasileiro a sair das faculdades) e agregaram inúmeros outros inovadores. De Durval Ferreira (Sambop, Batida Diferente) à precursora Silvia Telles (a quem alguns atribuem mais um marco inaugural, Foi a Noite, de Tom e Newton Mendonça, em 1957), Leny Andrade e as primeiras formações instrumentais da nova tendência lideradas por gente como Oscar Castro Neves (e seus irmãos músicos), Sérgio Mendes, Luis Carlos Vinhas, J.T. Meirelles, além do instrumental/vocal Tamba Trio (Luis Eça, Bebeto, Hélcio Milito) que ao lado do Bossa 3 (Vinhas, Tião Netto, Edison Machado) daria início a uma febre de conjuntos de piano, baixo e bateria. Foi um momento de efervescência instrumental com o aparecimento de músicos novos como Paulo Moura, Tenório Junior, Dom Um Romão, Milton Banana, Edson Maciel, Raul de Souza e a ascensão de maestro arranjadores como Moacyr Santos e Eumir Deodato.

O sucesso nos palcos universitários não tirou o intimismo do movimento que concentraria novas forças em pocket shows nos minúsculos bares do chamado Beco das Garrafas (nomeado a partir dos projetéis atirados pelos vizinhos contra o barulho) em Copacabana. De lá sairiam, paradoxalmente, artistas de uma fase mais extrovertida da bossa como Elis Regina (coreografada pelo bailarino americano Lennie Dale, que também cantava), Wilson Simonal e Jorge Ben (atual Jor).

Filial paulistana 

A cidade de São Paulo, que já acolhera os exilados cariocas Johnny Alf, Claudette Soares e Alaíde Costa lastreou uma filial do movimento com trios instrumentais como o Zimbo, Sambalanço (de onde sairiam Cesar Camargo Mariano e Airto Moreira), Jongo, Bossa Jazz, Manfredo Fest (pianista que acabaria radicado nos EUA), o cantor Agostinho dos Santos, as cantoras Maysa, Elsa Laranjeira e Ana Lúcia, a compositora Vera Brasil (Tema do Boneco de Palha), o violonista Paulinho Nogueira, os compositores Walter Santos e Geraldo Vandré (que lançaria o protesto Menino das Laranjas do futuro parceiro Théo de Barros) e o organista Walter Wanderley entre outros.

Junto com a cisão estética, que limitaria a duração da fase ortodoxa da bossa ao período 1958-1965, uma repartição política quebraria o movimento já reforçado por uma geração intermediária formada por Marcos Valle, Dori Caymmi, Edu Lobo, Francis Hime e Joyce. O Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes estimulava uma visão popular e nacionalista da cultura brasileira que levou à autocrítica de um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, em Influência do Jazz ("pobre samba meu/ foi se misturando/ se modernizando/ e se perdeu") além de uma aproximação com os compositores de morro como Zé Ketti, com quem ele compôs o Samba da Legalidade (referindo-se à tentativa de impedir a posse de João Goulart, vice do presidente renunciante, Jânio Quadros).

Dessa corrente, a que se filiaria a Nara Leão do disco de estréia onde promovia sambistas como Cartola, Elton Medeiros e Nelson Cavaquinho e o ás do baião e xote nordestinos João do Vale, autor de Carcará, eram ainda outros parceiros de Lyra como Nelson Lins e Barros, Geraldo Vandré (Aruanda) além de Sérgio Ricardo (Zelão). Na mesma direção de releitura (com as harmonias da bossa) das raízes étnicas, Vinicius de Moraes e o violonista Baden Powell comporiam a série de afro-sambas (Berimbau, Canto de Ossanha). Ironicamente, o mesmo Vinicius, parceiro de Tom Jobim no maior clássico do movimento, Garota de Ipanema — que gravada em 1963 por João Gilberto, sua mulher Astrud, o saxofonista do cool jazz Stan Getz e Tom Jobim nos EUA expandiria o estilo pelo planeta — iria compor com Edu Lobo o marco do fim da bossa. Arrastão, da dupla, cantada por Elis Regina, no I Festival da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, em 1965, iniciaria a rotulada MPB. O reinado difuso do conglomerado de tendências abarcado por esta sigla duraria até 1982 quando deu-se a erupção do BRock, a partir da explosão do grupo Blitz.

Estética perene 

O fim cronológico da bossa não significou sua extinção estética. O jazz que a influenciou recebeu o troco a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela dupla Stan Getz (sax) e Charlie Byrd (guitarra), em 1962. No mesmo ano um elenco de músicos brasileiros tomaria o palco do Carnegie Hall, em Nova Iorque e a partir daí vários estabeleceriam bases por lá como Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Luis Bonfá e Eumir Deodato. Algumas das principais músicas do movimento foram regravadas por ases como Ella Fitzgerald, Miles Davis, Sarah Vaughan, Herbie Mann, Charlie Byrd, Oscar Peterson, Bill Evans, Coleman Hawkins, Cannonball Adderley, Gerry Mulligan e inúmeros outros. E com o aparecimento de novas gerações de jazzistas, vários dos chamados young lions, mostraram-se reverentes ao estilo. Antes, em 1967, o barítono intimista Frank Sinatra, voz guia dos primeiros vagidos da bossa (além de Chet Baker e do minimalista do acordeon Joe Mooney) reconheceria a afinidade num reverente dueto em disco com Tom Jobim. Isso sem contar os franco-atiradores que aproveitaram o modismo para vender falsas bossas ao público americano como Eddie Gourmé (Blame It On The Bossa Nova), Ruby & The Romantics (Our Day Will Come) e até um irreconhecivel Elvis Presley na rumba Bossa Nova Baby.

Duas décadas depois, a bossa ainda influenciaria uma corrente pós-punk inglesa, através do beije sound ou new bossa de grupos como Style Council, Matt Bianco (da cantora Basia, que dedicaria uma música a Astrud Gilberto) e Everything But the Girl. A tendência teria reflexo no BRock de Lobão a Cazuza (Faz Parte do Meu Show). Mais adiante, as pistas dançantes do acid jazz e o ramal eletrônico drum‘n’bass reabilitariam o groove da bossa, redescobrindo — e repaginando — de João Donato e Marcos Valle a Joyce e Edu Lobo.


Músicas

Chega de Saudade (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) – João Gilberto
Samba de uma Nota Só (Tom Jobim/ Newton Mendonça) – Nara Leão
Desafinado (Tom Jobim/ Newton Mendonça) – João Gilberto
Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes/ Norman Gimbel) – João e Astrud Gilberto, Stan Getz & Tom Jobim
O Barquinho (Roberto Menescal/ Ronaldo Bôscoli) – Maysa
Influência do Jazz (Carlos Lyra) – Carlos Lyra
Manhã de Carnaval (Luis Bonfá/ Antonio Maria) – Agostinho dos Santos, Luis Bonfá e Quarteto de Oscar Castro Neves no Carnegie Hall
Batida Diferente (Durval Ferreira/ Mauricio Einhorn) – Tamba Trio
Minha Namorada (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes) – Os Cariocas
Berimbau (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) – Baden Powell
Lobo Bobo (Carlos Lyra/ Ronaldo Bôscoli) – Wilson Simonal
Corcovado (Quiet Nights of Quiet Stars) (Tom Jobim/ Gene Lees) – Tom Jobim e Frank Sinatra
Insensatez (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) – Tom Jobim
Dindi (Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira) – Sylvia Telles
Ela É Carioca (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) – Sérgio Mendes e Sexteto Bossa Rio
Nanã (Moacyr Santos) – Moacyr Santos
Balanço Zona Sul ( Tito Madi) – Zimbo Trio
Zelão (Sérgio Ricardo) –Sérgio Ricardo
Sonho de Maria (Marcos e Paulo Sérgio Valle) – Tamba Trio
Samba do Avião (Tom Jobim) – Eumir Deodato
Amazonas (João Donato e Lysias Ênio) – João Donato
Mas Que Nada (Jorge Ben) – Jorge Ben








Brega

A origem é discutida: há quem diga que o nome vem dos prostíbulos nordestinos em que esse tipo de música era usado para embalar os romances de aluguel. O fato é que, desde o começo da década de 80, a palavra brega vem sendo usada para designar a música de mau gosto, geralmente feita para as camadas populares, com exageros de dramaticidade e/ou letras de uma insuportável ingenuidade. A origem desta ramificação indesejada da MPB, hoje alçada à condição de quase-gênero, pode ser encontrada nos anos 30, em Vicente Celestino e suas trágicas canções em forma de opereta: O Ébrio (música-tema do torturado filme estrelado por ele e dirigido por sua mulher, Gilda de Abreu) e Coração Materno (gravada por Caetano Veloso no auge da Tropicália, pouco tempo antes da morte de Vicente).

Nas décadas seguintes, o samba-canção e o bolero levariam adiante essa estética, principalmente quando cantados pelas vozes empostadas de artistas como Orlando Dias (viúvo que desafogava a emoção no palco, acenando com o lenço branco para o público), Silvinho (de Esta Noite Eu Queria que o Mundo Acabasse e Mulher Governanta), Nelson Gonçalves (A Volta do Boêmio), Anísio Silva, Altemar Dutra (abastecido pela dupla de compositores Jair Amorim e Evaldo Gouveia, de Que Queres Tu de Mim?), Waldick Soriano, (Eu Não Sou Cachorro Não), Adilson Ramos (Sonhar Contigo), Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Agnaldo Rayol e Lindomar Castilho. Mesmo Teixeirinha, cantor e compositor dedicado à música tradicional gaúcha, obteve sua inscrição nesse clube ao gravar em 1960 a dramáticaCoração de Luto, uma narração da morte da sua progenitora, que acabou sendo popularmente rebatizada de Churrasquinho de Mãe.

A Jovem Guarda, inadvertidamente, abriu caminho para novas modalidades musicais que desafiaram os padrões de bom gosto da classe média brasileira. Inspirados pelas levadas de guitarra e as letras de romantismo primário, músicos de todo o país resolveram embarcar naquela onda. Em Recife, apareceu Reginaldo Rossi, líder da banda The Silver Jets, com a qual chegou a participar de alguns programas da Jovem Guarda. Seu primeiro sucesso em carreira solo foi O Pão, que abriu caminho para uma série de outras músicas com estilo muito próprio, que o tornaram um dos artistas mais populares do Nordeste a partir do começo dos anos 70: Mon Amour Meu Bem, Ma Femme (que teve mais de 50 regravações), a A Raposa e as Uvas eO Rock Vai Voltar, entre outras. Rossi tornou-se o contraponto nordestino para Roberto Carlos, apropriando-se do título do companheiro de movimento: Rei. No fim dos anos 90, sua Garçon, clássico da música de corno, transformou-o subitamente em sensação no Sudeste, ajudando a detonar uma onda de reavaliação do brega, com direito inclusive a um disco-tributo pela geração roqueira do mangue beat: ReiGinaldo Rossi (1999).

Grandes vendedores de discos
 

Junto com Reginaldo Rossi, outros cantores passaram a disputar a atenção do público de classes sociais menos abastadas no começo dos anos 70. Em especial, Odair José, de canções como Pare de Tomar a Pílula e Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, que chegou a cantar em dueto com Caetano Veloso no festival Phono 73. Tematizando as alegrias e tragédias de uma população de migrantes nordestinos, outros artistas como Amado Batista (O Lixeiro e a EmpregadaO Acidente), Fernando Mendes (Cadeira de Rodas), Evaldo Braga (Sorria, Sorria) e Almir Rogério (Fuscão Preto) também garantiram grandes vendagens de discos. Uma versão mais moderna do que viria a ser considerada como brega daria as caras na segunda metade dos anos 70, capitaneada por Sidney Magal (de Sandra Rosa Madalena e O Meu Sangue Ferve por Você) e Gretchen (Melô do PiripipiConga La Conga). No lugar do embalo da Jovem Guarda, entrou a influência da discoteque e do pop dançante em voga da época, com uma grande ênfase em danças e gestos sensuais (no limite do vulgar, diriam alguns). O romantismo e seus arroubos também seguiram em alta, em trabalhos como o da paraguaia Perla (que vertia para o português canções do grupo sueco Abba) e a dupla Jane & Herondi.

Nos anos 80, o pop brega foi representado por uma dupla de compositores, Michael Sullivan (ex-Fevers) e Paulo Massadas, que garantiu sucessos para nomes do mais respeitável time da MPB, como Gal Costa (Um Dia de Domingo), Tim Maia (Me Dê Motivo) e Fagner (Deslizes). Por outro lado, jovens artistas do Sudeste, alguns até universitários, começaram a reavaliar aquela música batizada de brega e a usá-la em seus trabalhos como forma de contestar a alta cultura. Essa vertente metabrega (que Raul Seixas inaugurou nos anos 70 nas músicas Sessão das Dez e Tu É o MDC da Minha Vida), teve como expoentes o cantor, compositor pianista e ator carioca Eduardo Dusek (que fez o disco Brega-chique em 1984) e a banda paulistana Língua de Trapo.

Vertente satírica 

Esse movimento avançou pela década de 90, com bandas como a paulistana Vexame e a carioca Os Copacabanas, que se especializaram em recriar sucessos de Amado Batista e Reginaldo Rossi, de forma satírica, para as platéias intelectualizadas. Outra vertente foi a dos autores, como o cearense Falcão (de Holiday e Foi Muito e I’m Not Dog No, versão em inglês escalafobético de Eu Não Sou Cachorro Não) e os Mamonas Assassinas (filhos diletos do Língua de Trapo, com Vira Vira e Pelados em Santos). Em 1999, a aceitação do brega chegou a tal ponto que a gravadora Universal lançou a caixa de seis CDs A Discoteca do Chacrinha (afinal, era o programa em que os artistas do gênero se encontravam), com Sidney Magal, Gretchen, Odair José, Almir Rogério, Amado Batista e tantos outros nomes de grande popularidade na década de 70 regravando seus sucessos.

Enquanto isso, o brega em sua forma mais autêntica tornava-se uma das principais forças musicais em Belém do Pará. Depois de Alípio Martins e Beto Barbosa (que ajudou a propagar o fenômeno da Lambada pelo país no fim dos 80), uma geração influenciada por Reginaldo Rossi tomou a cidade em bailes e festas, com uma série de músicas de sucesso que não ultrapassaram as barreiras regionais: caso da Melô do Papudinho de Roberto Villar e da Melô do Ladrão, de Wanderley Andrade. Edilson Moreno, Anormal do Brega, Adilson Ribeiro, Cléo Soares, Kim Marques, Alberto Moreno, Cris Oliveira eram outros dos artistas que movimentavam a vida noturna de Belém no fim dos anos 90 com seu Brega Calipso.


Músicas 

Coração Materno – Vicente Celestino
Sonhar Contigo – Adilson Ramos
A Volta do Boêmio – Nelson Gonçalves
Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme – Reginaldo Rossi
Fuscão Preto – Almir Rogério
Eu Não Sou Cachorro Não – Waldick Soriano
Cadeira de Rodas – Fernando Mendes
Sorria, Sorria – Evaldo Braga
O Meu Sangue Ferve por Você 
– Sidney Magal
Brega-Chique – E o Vento Levou Black – Eduardo Dusek
Holiday e Foi Muito – Falcão











Bumba-meu-boi

"O meu boi morreu
O que será de mim?
Manda comprar outro, ó maninha
Lá no Piauí"


Um dos folguedos mais tradicionais do Brasil, tendo englobado até vários reisados, o bumba-meu-boi é uma espécie de auto em que se misturam teatro, dança, música e circo. Ele é representado sob os mais diferentes nomes em localidades que vão do Rio Grande do Sul (como boizinho) e Santa Catarina (boi-de-mamão) aos estados do Nordeste (boi-de-reis) e o Amazonas (boi-bumbá). Sua provável origem é o Nordeste das últimas décadas do século XVIII, onde a criação de gado era feita por colonizadores com mão-de-obra escrava. Nas fazendas, os cativos teriam misturado suas tradições africanas (como a do boi geroa) a outras européias dos senhores (como a tourada espanhola, as tourinhas portuguesas e o boeuf grasfrancês), numa celebração que tematizava as relações de poder e uma certa religiosidade, sendo, inicialmente, alvo de grande repressão.

Tradicionalmente realizado no período das festas juninas (em alguns lugares também no Natal e no Carnaval), o bumba-meu-boi encena o rapto, morte e ressurreição do boi — uma história de certa forma metaforiza o ciclo agrário. Musicalmente, ele engloba vários estilos brasileiros, como os aboios, canções pastoris, toadas, cantigas folclóricas e repentes, tocados em instrumentos típicos do país, tanto de percussão como de cordas. Para alguns estudiosos, o "bumba" vem do som da zabumba, mas, para outros, trata-se de uma interjeição, que daria à expressão sentidos vários como "Vamos, meu boi!", "Agüenta, meu boi" ou "Bate, meu boi!".

O boi, figura central do auto, geralmente é feito com uma armação de cipó coberta de chita, grande o bastante para que um homem a vista. A cabeça que pode ser feita de papelão ou com a própria caveira do animal. Na encenação, a lenda pode ser contada de várias formas, mas a história básica é a da escrava Catirina (ou Catarina), grávida, que pede ao marido Chico (ou Pai Francisco) para que mate o boi mais bonito da fazenda porque quer comer a sua língua. Ele atende ao desejo da mulher e é preso pelo seu feitor, que tenta a todo custo ressuscitar o boi, com a ajuda de curandeiros. Boi revivido, tudo acaba em festa. Outros personagens podem entrar na história para dançar, dependendo do tipo de boi: Bastião, Arlequim, Pastorinha, Turtuqué, o engenheiro, o padre, o médico, o diabo etc, todos quase sempre interpretados por homens, que se travestem para compor os personagens femininos.

Festa em Parintins 

Sufocado pelos avanços dos meios de comunicação, o boi fica cada vez mais restrito às comunidades rurais e pesqueiras que ainda conseguem preservar suas tradições. No entanto, ele é uma festividade muito popular em São Luís do Maranhão, para onde vários grupos do estado (alguns fortes, como o Boi Madre Deus e o Boi Maracanã) convergem na época junina e desfilam por toda a cidade. No entanto, esse boi ainda não supera em público o que acontece anualmente, nos dias 28, 29 e 30 de junho, na cidade de Parintins (Amazonas, a 420 km de Manaus), quando o boi Caprichoso (de cor azul, fundado em 1913 por Lindolfo Monteverde) e o Garantido (de cor vermelha, fundado em 1914 por José Furtado Belém e Emídio Rodrigues Vieira) desfilam no bumbódromo da cidade para um público que, entre locais e turistas, chega a reunir mais de 50 mil pessoas.

Levado para a Amazônia por imigrantes maranhenses que foram no século XIX atrás dos lucros da borracha, esse boi ganhou o nome de boi-bumbá, sofreu influências indígenas e andinas e começou a sair ao som da chamada toada amazônica. A competição profissional entre Caprichoso e Garantido começou em 1966, e desde então só fez ganhar requintes de espetáculo (um desfile parecido com o das Escolas de Samba do Rio, com raio laser e o som amplificado de instrumentos eletrônicos) que transformou o Boi de Parintins na mais famosa manifestação folclórica da região Norte, patrocinada por indústrias de bebidas.

Graças ao desfile amazônico, o boi pode gerar em 1996 o seu primeiro artista pop: a ex-banda de forró Carrapicho, que foi sucesso no Brasil e na França (levado pelo ator Patrick Bruel) com a música Tic Tic Tac. Gravado por Fafá de Belém e pela cantora de axé Márcia Freire, a música Vermelho (hino do Garantido, composto por Chico da Silva) também teve grande êxito, abrindo caminho para artistas de Parintins, como os levantadores de toada Arlindo Júnior e David Assayag.


Músicas 


Boi Barroso – Elis Regina
Vermelho (Chico da Silva) – Fafá de Belém
Tic Tic Tac – Carrapicho
Boi Bumbá (Waldemar Henrique) – José Tobias
Boi do Amazonas (recolhido por Walter Santos) – Papete
Bumba Meu Queixada – Teatro União e Olho Vivo
Entrada do Boi Misterioso – Quinteto Violado e Zélia Barbosa
Gado Bom Quem Tem Sou Eu (toada de vaquejada) – Otacílio Batista
Boi de Mamão (entrada de boi, Bermúncia e Maricota) – Boi de Mamão de Itacorobi (SC)
A Burrinha – Quinteto Violado











Choro

Gênero criado a partir da mistura de elementos das danças de salão européias (como o schottisch, a valsa, o minueto e, especialmente, a polca) e da música popular portuguesa, com influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva, chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões. Como gênero, o choro só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história começa em meados do século XIX, época em que as danças de salão passaram a ser importadas da Europa. A abolição do tráfico de escravos, em 1850, provocou o surgimento de uma classe média urbana (composta por pequenos comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem negra), segmento de público que mais se interessou por esse gênero de música.

Em termos de estrutura musical, o choro costuma ter três partes (ou duas, posteriormente), que seguem a forma rondó (sempre se volta à primeira parte, depois de passar por cada uma). A origem do termo choro já foi explicada de várias maneiras. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse nome vem de xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas; de xoro, o termo teria finalmente chegado a choro. Por outro lado, Ary Vasconcelos sugere que o termo liga-se à corporação musical dos choromeleiros, muito atuantes no período colonial. José Ramos Tinhorão defende outro ponto de vista: explica a origem do termo choro por meio da sensação de melancolia transmitida pelas baixarias do violão (o acompanhamento na região mais grave desse instrumento). Já o músico Henrique Cazes, autor do livro Choro – Do Quintal ao Municipal, a obra mais completa já publicada até hoje sobre esse gênero, defende a tese de que o termo decorreu desse jeito marcadamente sentimental de abrasileirar as danças européias.

Vários músicos e compositores contribuíram para que esse maneirismo inicial se transformasse em gênero. Autor da polca Flor Amorosa, que é tocada até hoje pelos chorões, Joaquim Antonio da Silva Callado foi professor de flauta do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. De seu grupo fazia parte a pioneira maestrina Chiquinha Gonzaga, não só a primeira chorona, mas também a primeira pianista do gênero. Em 1897, Chiquinha escreveu para uma opereta o cateretê Corta-Jaca, uma das maiores contribuições ao repertório do choro. Outro pioneiro foi o clarinetista e compositor carioca Anacleto de Medeiros, que realizou as primeiras gravações do gênero, em 1902, à frente da Banda do Corpo de Bombeiros. Assim como outros registros posteriores, essas gravações indicam que a improvisação ainda não fazia parte da bagagem musical dos chorões naquela época.

Sofisticação 

Essencial para a formação da linguagem do gênero foi a obra de Ernesto Nazareth, que desde cedo extrapolou as fronteiras entre a música popular e a erudita. O autor de clássicos como BrejeiroOdeon e Apanhei-te Cavaquinhodestacou-se como criador de tangos brasileiros e valsas, mas de fato exercitou todos os gêneros musicais mais comuns daquela época. A sofisticação da obra de Nazareth era tamanha, que (exceto no caso de Radamés Gnattali, um de seus melhores intérpretes) sua obra só foi definitivamente integrada ao repertório básico dos chorões nos anos 40 e 50, por meio das gravações de Jacob do Bandolim e Garoto.

Também genial, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma definida. Para isso, introduziu elementos da música afro-brasileira e da música rural nas polcas, valsas, tangos e schottische dos chorões. É o caso do maxixe Os Oito Batutas, gravado em 1918, cujo título antecipou o nome do primeiro conjunto a conquistar fama na história da música brasileira. Protagonistas de uma polêmica temporada de seis meses em Paris, no ano de 1922, Pixinguinha e seus parceiros na banda Os Batutas (um septeto, na verdade) dividiram a imprensa e o meio musical brasileiro, entre demonstrações de ufanismo e desqualificação. Foi também sob duras críticas que Lamentos (de 1928) eCarinhoso (composto em 1917 e só gravado pela primeira vez em 28), dois inovadores choros de Pixinguinha, foram recebidos pela crítica. O fato de ambos terem sido feitos em duas partes, em vez de três, foi interpretado pelo preconceituoso crítico Cruz Cordeiro como uma inaceitável influência do jazz.

Outra personalidade de peso na história do gênero foi o carioca Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, famoso não só por seu virtuosismo como instrumentista, mas também pelas rodas de choro que promovia em sua casa, nos anos 50 e 60. Sem falar na importância de choros de sua autoria, como RemeleixoNoites Cariocas e Doce de Coco, que fazem parte do repertório clássico do gênero. Contemporâneo de Jacob, Waldir Azevedo superou-o em termos de sucesso comercial, graças a seu pioneiro cavaquinho e choros de apelo bem popular que veio a compor, comoBrasileirinho (lançado em 1949) e Pedacinhos do Céu.

Linguagem das big bands 

Um dos exemplos mais bem resolvidos de união entre o choro e o jazz pode ser encontrado na obra do maestro e arranjador pernambucano Severino Araújo, que pouco depois de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1944, decidiu adaptar sambas e choros à linguagem das big bands. À frente da Orquestra Tabajara, Araújo gravou vários choros de sua autoria, comoEspinha de Bacalhau e Um Chorinho em Aldeia, exemplos seguidos por outras orquestras do gênero ou compositores como Porfírio da Costa e K-Ximbinho. Outro brilhante adepto da fusão do choro com o jazz foi o maestro Radamés Gnattali, ao lado de quem atuaram talentosos músicos do gênero, como os violonistas Bola Sete, Laurindo de Almeida e Garoto. Mas foi com dois saxofonistas que Gnattali aprofundou mais suas experiências de aproximação com o jazz: Zé Bodega e Paulo Moura, músico que desde os anos 70 dedica parte de seu repertório ao choro.

O Rio de Janeiro é a incontestável capital do choro, mas não faltaram músicos de expressão no gênero, originários de outras partes do país. Um dos pioneiros foi o violonista João Pernambuco, que trocou o sertão pernambucano pelo Rio, em 1904. Além de ter feito parte do conjunto Os Oito Batutas, ele é até hoje cultuado pelos violonistas brasileiros, que continuam interpretando suas composições para violão. Incentivado pelos Batutas, o paraibano Severino de Carvalho, o Ratinho, também migrou para o Rio, em 1922. Um dos pioneiros na utilização do sax soprano, além de compositor de clássicos do gênero, como Saxofone, Por Que Choras?, ficou mais conhecido, porém, ao formar a famosa dupla caipira Jararaca e Ratinho. Outro solista nordestino de destaque, nos anos 20 e 30, foi o clarinetista e saxofonista sergipano Luís Americano, que integrou o inovador Trio Carioca, ao lado do pianista e maestro Radamés Gnattali, em 1937. Já o bandolinista pernambucano Luperce Miranda, que também tocava cavaquinho, radicou-se no Rio de Janeiro, em 1928, depois de tocar com os Turunas da Mauricéia. Notável também é o violonista e compositor Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba, que surpreende ao tocar seu instrumento sem inverter a posição das cordas, apesar de ser canhoto.

Outro centro de cultivo e desenvolvimento do gênero foi São Paulo, onde se destacaram chorões como os violonistas Armandinho Neves, Antônio Rago e, especialmente, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. Virtuose do violão, ele acompanhou a cantora Carmen Miranda nos EUA, em 1939. O contato direto com o jazz influenciou sua obra, inclusive seus choros, que hoje são tocados por violonistas de vários cantos do mundo, incluindo o também paulista Paulo Bellinati, um dos principais divulgadores da obra de Garoto. Embora o choro continue sendo mais cultuado no Rio, é em São Paulo que têm acontecido os mais significativos eventos dedicados ao gênero, como os festivais promovidos pela TV Bandeirantes, nos anos 70, ou a recente série Chorando Alto, no Sesc Pompéia.

Revitalização 

Estimulado pelo show Sarau, com Paulinho da Viola e o grupo Época de Ouro (e em parte pelo sucesso do grupo Novos Baianos), o choro conheceu um período de revitalização, nos anos 70. Não apenas surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como os cariocas A Fina Flor do Samba, Galo Preto e Os Carioquinhas, mas um novo público se formou, ampliado por clubes de choro criados em cidades como Brasília, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo, entre outras. O novo interesse pelo gênero propiciou também a redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira, além de revelar talentos mais jovens, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian. . Sem dúvida, o músico mais brilhante dessa nova geração foi o violonista carioca Rafael Rabello, que apesar de ter morrido prematuramente, aos 32 anos, em 1995, deixou gravada uma obra de peso.

Já a partir dos anos 80, o choro passa a estabelecer outras conexões musicais. Grupos de espírito chorão, como a Camerata Carioca e a Orquestra de Cordas Brasileiras, também traziam em seus repertórios música erudita de Bach, Vivaldi e Villa-Lobos, ou mesmo o tango contemporâneo de Astor Piazzolla. Por outro lado, a música popular brasileira passou a flertar mais com o choro através de obras de influentes compositores e letristas, como Paulinho da Viola e Chico Buarque, ou instrumentistas, como Hermeto Pascoal. Já na última década, o choro vem recebendo uma ênfase especial na parceria do violonista e compositor Guinga com o veterano letrista Aldir Blanc, que elevaram o patamar das experiências com o choro vocal. Entre os músicos da atualidade que dedicam considerável parte de seu repertório ao choro chamam atenção o pianista Leandro Braga, o gaitista Rildo Hora, o clarinetista e saxofonista Nailor Proveta Azevedo e os flautistas Antônio Carlos Carrasqueira e Dirceu Leitte.

Músicas 

Corta-Jaca (Chiquinha Gonzaga) – Abel Ferreira
Brejeiro (Ernesto Nazaré) – Regional de Evandro
Apanhei-te Cavaquinho (E. Nazaré) – Arthur Moreira Lima
Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) – Orlando Silva
Tico-tico no Fubá (Zequinha de Abreu) – Dominguinhos
Lamentos (Pixinguinha) – Paulo Moura
Um a Zero (Pixinguinha) – O Trio
Vou Vivendo (Pixinguinha e Benedito Lacerda) – Pixinguinha e B. Lacerda
Tristezas de Um Violão (Garoto) – Paulo Belinatti
Espinha de Bacalhau (Severino Araújo) – Orquestra Tabajara
Remexendo (Radamés Gnattali) – Radamés Gnatalli
Suíte Retratos (Radamés Gnattali) – Chiquinho do Acordeon e Rafael Rabello
Noites Cariocas (Jacob do Bandolim) – Jacob do Bandolim
Doce de Coco (Jacob do Bandolim) – Jacob do Bandolim
Na Glória (Raul de Barros e Ary dos Santos) – Raul de Barros
Chorando Baixinho (Abel Ferreira) – Abel Ferreira
Fogo na Roupa (Altamiro Carrilho) – Altamiro Carrilho
Brasileirinho (Waldir Azevedo) – Waldir Azevedo
Visitando o Recife (Canhoto da Paraíba) – Canhoto da Paraíba
Homenagem à Velha Guarda (Sivuca) – Sivuca
Romanceando (Paulinho da Viola) – Paulinho da Viola
Chorinho Pra Ele (Hermeto Pascoal) – Hermeto Pascoal
Meu Caro Amigo (Chico Buarque e Francis Hime) – Chico Buarque
Cheio de Dedos (Guinga) – Guinga










Coco

Dança tradicional do Nordeste e do Norte, cuja origem é discutida: há quem acredite que tenha vindo da África com os escravos, e há quem defenda ser ela o resultado do encontro entre as culturas negra e índia. Apesar de mais freqüente no litoral, o coco teria surgido no interior, provavelmente no Quilombo dos Palmares, a partir do ritmo em que os cocos eram quebrados para a retirada da amêndoa. A sua forma musical é cantada, com acompanhamento de um ganzá ou pandeiro e da batida dos pés. Também conhecido como samba, pagode ou zambê (quando é tocado no tambor de mesmo nome), o coco originalmente se dá em uma roda de dançadores e tocadores, que giram e batem palmas. A música começa com o tirador de coco (ou coqueiro), que puxa os versos, respondidos em seguida pelo coro. A forma é de estrofe-refrão, em compassos 2/4 ou 4/4.

Muitas são as variações do coco espalhadas pelo Nordeste: agalopado, bingolé, catolé, de roda (um dos mais primitivos), de praia, de zambê, de sertão, desafio, entre outros. Muitos deles caíram em desuso, por causa das influências culturais urbanas e da repressão das autoridades (há um grau de erotismo embutido nas danças), mas ainda são praticados nas festas juninas. Um dos cocos mais populares é o de embolada, que se caracteriza pelas curtas frases melódias repetidas várias vezes em cadência acelerada, com textos satíricos (quase sempre improvisados, em clima de desafio) onde o que importa é não perder a rima.

Um dos artistas mais célebres do coco foi o paraibano Jackson do Pandeiro, que começou acompanhando a mãe nos cocos tocando zabumba. Sua carreira fonográfica começou em 1953, em Recife, com o coco Sebastiana, o primeiro de muitos que viria a gravar, acabando por tornar o estilo (e tantos outros da música nordestina) conhecido no Sudeste. Mais tarde, nomes como Bezerra da Silva e Genival Lacerda também se valeriam do gênero. Celebrado por muitos dos artistas da MPB, como Gal Costa (que gravou Sebastiana), Gilberto Gil e Alceu Valença, o coco seria redescoberto nos anos 90 em Recife, pela via do mangue beat, através do trabalho de grupos como Chico Science & Nação Zumbi e Cascabulho. Eles chamaram a atenção para artistas recifenses contemporâneos, mais próximos da raiz musical, como Selma do Coco, Lia de Itamaracá e Zé Neguinho do Coco.


Músicas 

Sebastiana – Jackson do Pandeiro
O Canto da Ema – Gilberto Gil
A Cantiga do Sapo – Alceu Valença
Coco Dub – Chico Science & Nação Zumbi
Jack Soul Brasileiro – Lenine
A Rolinha – Selma do Coco
Coco – Quinteto Violado
Coco de Improviso (Edson Meneses, Alventino Cavalcanti e Jackson do Pandeiro) – Jackson do Pandeiro
Esse Coco É Bom (Genival Lacerda e Genival Santos) – Genival Lacerda
O Rei do Coco (Bezerra da Silva) – Bezerra da Silva






Forró

O nome forró deriva de forrobodó, "divertimento pagodeiro", segundo o folclorista Câmara Cascudo. Tanto o pagode (que hoje designa samba) como o forró são festas que foram transformadas em gêneros musicais. O forrobodó, "baile ordinário, sem etiqueta", também conhecido por arrasta-pé, bate-chinela ou fobó, sempre foi movido por vários tipos de música nordestina (baião, coco, rojão, quadrilha, xaxado, xote) e animado pela pé de bode, a popular sanfona de oito baixos. Uma versão fantasiosa chegou a atribuir a origem do forró à deturpação da pronúncia dos bailes for all (para todos), que no começo do século os engenheiros ingleses da estrada de ferro Great Western, que servia Pernambuco, Paraíba e Alagoas, promoviam para os operários nos fins de semana.

Com a imigração de grandes camadas da população nordestina para a região sudeste, inúmeras casas de forró foram abertas geralmente nas periferias antes de tornar-se modismo entre parte da juventude e estabelecer seus domínios nas regiões mais abastadas. No Rio, um dos mestres da matéria, o compositor maranhense João do Vale, pontificava no Forró forrado no bairro central do Catete, no final dos 70. No nordeste, as cidades de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) disputam hoje a cada festa junina o título de capitais do forró com festejos de longa duração capitalizados como eventos turísticos que arrebanham multidões de visitantes.

Gonzaga e Jackson, os difusores 

Pioneiro na difusão da música de sua região no eixo Rio-São Paulo, o sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento (1912–1989) pode ter sido o primeiro a registrar o termo em disco no Forró de Mané Vito, parceria com Zé Dantas, em 1949. Entre outros temas desenvolvidos no mesmo ambiente, ele perpetuou Derramaro o Gai e Forró do Quelemente, ambos com Zé Dantas, nos anos seguintes. E mais:Forró no Escuro (1958), Numa Sala de Reboco(1964), com José Marcolino, Forró de Pedro Chaves (1967), Fole Roncou (umforrock com Nelson Valença, em 1973), Retrato de um Forró (com Luis Ramalho, no mesmo ano), Forró de Ouricuri (1983), Forrofiar, Danado de Bom(1984), Forró do Bom (1985), Forró de Cabo a Rabo (1986), Forró Gostoso(1988), os últimos seis em parceria com João Silva. Emérita forrozeira, a cantora Marinês (e sua Gente) atribui ao paraibano Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho, 1919-1982) a responsabilidade pela implantação do forró no mercado sulista a partir do estouro de sua gravação de Forró em Limoeiro(Edgar Ferreira), em 1953. Clássicos criados por ele como Sebastiana (Rosil Cavalcanti), A Mulher do Aníbal (Genival Macedo/ Nestor de Paula) e Um a Um(Edgar Ferreira), regravados de Gal Costa aos Paralamas do Sucesso, e os específicos Forró em Casa AmarelaNa Base da Chinela, Forró em Caruaru, Forró de Surubin, Forró na Gafieira, Forró do Zé Lagoa ao lado da imagem dançarina – em dupla com sua mulher na época, Almira Castilho – contribuíram para fixá-lo como rei do ritmo.

A influência de Jackson, celebrada em Jacksoul Brasileiro pelo pernambucano Lenine, motivou um grupo, o Cascabulho, a especializar-se em sua obra e resultou no CD tributo Revisto e Sampleado com participações de Gal Costa, Chico Buarque, Zeca Pagodinho a Fernanda Abreu, Paralamas e O Rappa. Já no tributo Baião de Viramundo grupos do movimento mangue beat e adjacências como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Stela Campos, Mestre Ambrósio, Otto, DJ Dolores, Comadre Florzinha reagravaram um Gonzaga de pique eletrônico. Os discípulos da dupla contam-se de Gilberto Gil, Antonio Barros & Cecéu a Alceu Valença, Fagner, Nando Cordel, Jorge de Altinho, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.

Também o pernambucano José Domingos de Morais, o Dominguinhos, contribuiu para estabelecer o primado semântico do forró que acabaria engolindo outros estilos. Apadrinhado por Luiz Gonzaga, incentivado pelos tropicalistas (seu parceiro em Lamento Sertanejo e Abri a Porta, Gilberto Gil estourou Eu Só Quero um Xodó, de Dominguinhos & Anastácia), o sanfoneiro de Garanhuns sempre reservava em seus shows uma parte para improviso instrumental de sanfona. Esse trecho apresentado como "forrózinho do Dominguinhos" ajudou a cristalizar o gênero formado por vários estilos e praticado há anos na periferia do mercado por sanfoneiros como Abdias, Pedro Raimundo, Zé Calixto, Zé Gonzaga e Zenilton, entre muitos.

De Sivuca e Chiquinho do Acordeom a Oswaldinho, Severo e Waldonys, além de recém-chegados como o híbrido (sertanejo paulista) Miltinho Edilberto e os grupos do Rio, Forroçacana, Trio Forrozão e Para Todos, o espírito gregário e extrovertido do gênero dançarino mantém um idioma comum. Hoje há até uma contrafação diluída (com tecladaria substituindo a sanfona), apelidada ó xente music, onde reinam grupos de grandes vendagens como Mastruz com Leite, Limão com Mel e solistas como Frank Aguiar, vulgo Cãozinho dos Teclados.


Músicas 

Forró de Mané Vito (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) – Luiz Gonzaga
Forró em Limoeiro (Edgar Ferreira) – Jackson do Pandeiro
Derramaro o Gai (Luiz Gonzaga) – Luiz Gonzaga
Forró em Caruaru (Zé Dantas) – Jackson do Pandeiro
Coroné Antonio Bento (João do Vale/ Luiz Wanderley) – Tim Maia
Feira de Mangaio (Sivuca/ Glorinha Gadelha) – Clara Nunes
Forró do Chic Tak (Pinto do Acordeon/ Aracílio Araújo) – Fagner e Elba Ramalho
Quatro Cravos (Quatro Cravos na Lapela) (Jarbas Mariz/ Cátia de França) – Marinês e Gilberto Gil
Na Base da Chinela (Jackson do Pandeiro/ Rosil Cavalcanti) – Elba Ramalho
Forró Número Um (Cecéu) – Luiz Gonzaga e Gal Costa
Pagode russo (Luiz Gonzaga/ João Silva)/ Quero Chá (Luiz Gonzaga/ José Marcolino)/Fuga da África (Luiz Gonzaga) – Dominguinhos, Sivuca e Oswaldinho
Isso Aqui Tá Bom Demais (Dominguinhos/ Nando Cordel) – Dominguinhos
Eu Quero Ver Você Dizer Que Eu SouRruim (Alceu Valença/ Alcymar Monteiro/ Aracílio Araújo) – Alceu Valença
For All Para Todos (Geraldo Azevedo/ Capinam) – Geraldo Azevedo
Forró de Viola (Miltinho Edilberto) – Miltinho Edilberto
O Fole Roncou (Luiz Gonzaga/ Nelson Valença) – Nação Zumbi









Forró universitário
Forró universitário é um gênero musical surgido no estado brasileiro do São Paulo e Rio de Janeiro, sendo uma herança trazida do Nordeste, principalmente do estado do Ceará e da cidade de Itaúnas no Espírito Santo, revivendo o forró estilo pé de Serra de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
Enquanto dança o forró universitário foi inventado e difundido a partir da cidade de São Paulo, tem três passos basicos, sendo um deles o 2 para lá dois para cá que veio da polca.
O sucesso deste estilo musical deve-se principalmente à força da dança, alavancando vendas de discos, a promoção de shows e a realização de grandes festivais. Outro fator importante é que com a boa qualidade das letras e música, atraiu também a classe média e alta.
O auge do estilo se deu na virada século XXI com a chegada de grupos como o Falamansa - além, é claro, dos tradicionais trios que ganharam mais espaço com a grande exposição.
Atualmente o ritmo se apresenta largamente difundido por todo o Brasil.
Outros grupos musicais também merecem destaque como o Trio Virgulino, o Rastapé, a Estakazero e Bicho de Pé.
Outra versão
No início dos anos 90, universitários da USP (Universidade de S. Paulo) começaram a fazer festas e contratar bandas de forró original, ou seja: zabumba, triângulo e sanfona - forró pé-de-serra - uma delas, o trio virgulino, foi um dos principais precursores deste forró. A partir daí começaram a introduzir passos de rock anos 50, ou rockabilly na dança, que até então, era uma coisa bem básica - 2 p/ lá 2 p/ cá seguido de poucas variações de passos. Como a USP é muito próxima do Bairro de Pinheiros e lá existia - e ainda existe - o Remelexo, uma casa que toca forró, na Rua Paes Leme, os alunos da USP começaram a frequentar a casa, disseminando esta forma de dançar e não um ritmo, como muita gente acha, principalmente com músicas lentas (xote). Portanto, Forró Universitário é uma forma de dançar o forró mais lento.











Frevo

Dança instrumental, marcha em tempo binário e andamento rapidíssimo. Assim o ensaísta Mário de Andrade sumariza o frevo em seu Dicionário Musical Brasileiro (Editora Itatiaia, reedição, 1989). Derivado da polca marcial, inicialmente chamado "marcha nortista" ou "marcha pernambucana", o frevo dos primórdios trazia capoeiristas à frente do cortejo. Das gingas e rasteiras que eles usavam para abrir caminho teria nascido o passo, que também lembra as czardas russas. Até as sombrinhas coloridas seriam uma estilização das utilizadas inicialmente como armas de defesa dos passistas. De instrumental, o gênero ganhou letra no frevo canção e saiu do âmbito pernambucano para tomar o país. Basta dizer que O Teu Cabelo Não Nega, de 1932, considerada a composição que fixou o estilo da marchinha carnavalesca carioca, é na verdade uma adaptação do compositor Lamartine Babo do frevo Mulata, dos pernambucanos Irmãos Valença. A primeira gravação com o nome do gênero foi o Frevo Pernambucano (Luperce Miranda/ Oswaldo Santiago) lançada por Francisco Alves no final de 1930. Um ano depois, Vamo se Acabá, de Nelson Ferreira pela Orquestra Guanabara recebia a classificação de frevo. Dois anos antes, ainda com o codinome de "marcha nortista", saía do forno o pioneiro Não Puxa Maroca (Nelson Ferreira) pela orquestra Victor Brasileira comandada por Pixinguinha.

Ases da era de ouro do rádio como Almirante (numa adaptação do clássicoVassourinhas), Mário Reis (É de Amargar, de Capiba), Carlos Galhardo (Morena da Sapucaia, O Teu Lencinho, Vamos Cair no Frevo), Linda Batista (Criado com Vó), Nelson Gonçalves (Quando é Noite de Lua), Cyro Monteiro (Linda Flor da Madrugada), Dircinha Batista (Não é Vantagem), Gilberto Alves (Não Sou Eu Que Caio Lá, Não Faltava Mais Nada, Feitiço), Carmélia Alves (É de Maroca) incorporaram frevos a seus repertórios. Em 1950, inspirados na energia do frevo pernambucano, a bordo de uma pequena fobica, dedilhando um cepo de madeira eletrificado, os músicos Dodô & Osmar fincavam as bases do trio elétrico baiano que se tornaria conhecido em todo o país a partir de 1979, quando Caetano Veloso documentou o fenômeno em seu Atrás do Trio Elétrico.

Invasão no carnaval 

Em 1957, o frevo Evocação No. 1, de Nelson Ferreira, gravado pelo Bloco Batutas de São José (o chamado frevo de bloco) invadiria o carnaval carioca derrotando a marchinha e o samba. O lançamento era da gravadora local, Mocambo, que se destacaria no registro de inúmeros frevos e em especial a obra de seus dois maiores compositores, Nelson (Heráclito Alves) Ferreira (1902-1976) e Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, 1904-1997). Além de prosseguir até o número 7 da série Evocação, Nelson Ferreira teve êxitos como o frevo Veneza Brasileira, gravado pela sambista Aracy de Almeida e outros como No Passo, Carnaval da Vitória, Dedé, O Dia Vem Raiando, Borboleta Não É Ave, Frevo da Saudade. A exemplo de Nelson, Capiba também teve sucessos em outros estilos como o clássico samba cançãoMaria Bethânia gravado por Nelson Gonçalves em 1943, que inspiraria o nome da cantora. Depois do referido É de Amargar, de 1934, primeiro lugar no concurso do Diário de Pernambuco, Capiba emplacou Manda Embora Essa Tristeza (Aracy de Almeida, 1936), e vários outros frevos que seriam regravados pelas gerações seguintes como De Chapéu de Sol Aberto, Tenho uma Coisa pra lhe Dizer, Quem Vai pra Farol É o Bonde de Olinda, Linda Flor da Madrugada, A Pisada É Essa, Gosto de Te Ver Cantando.

Cantores como Claudionor Germano e Expedito Baracho se transformariam em especialistas no ramo. Um dos principais autores do samba-canção de fossa, Antônio Maria (Araújo de Morais, 1921-1964) não negou suas origens pernambucanas na série de frevos (do número 1 ao 3) que dedicou ao Recife natal. O gênero esfuziante sensibilizou mesmo a intimista bossa nova. De Tom Jobim e Vinicius de Moraes (Frevo) a Marcos e Paulo Sérgio Valle (Pelas Ruas do Recife) e Edu Lobo (No Cordão da Saideira) todos investiram no (com)passo acelerado que também contagiou Gilberto Gil a municiar de guitarras seu Frevo Rasgadoem plena erupção tropicalista.

A baiana Gal Costa misturou frevo, dobrado e tintura funk (do arranjador Lincoln Olivetti) num de seus maiores sucessos, Festa do Interior (Moraes Moreira/ Abel Silva) e a safra nordestina posterior não deixou a sombrinha cair. O pernambucano Carlos Fernando, autor do explosivo Banho de Cheiro, sucesso da paraibana Elba Ramalho, organizou uma série de discos intitulada Asas da América a partir do começo dos 80. Botou uma seleção de estrelas para frevar: de Chico Buarque, Alcione, Lulu Santos e Gilberto Gil a Jackson do Pandeiro, Elba e Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Fagner e Alceu Valença. Entre os citados, Alceu, Zé e Geraldo mais o Quinteto Violado, Lenine, o armorial Antonio Nóbrega e autores como J. Michiles, mantêm no ponto de fervura o frevo pernambucano. Mesmo competindo com os decibéis – e o poder de sedução – do congênere baiano.


Músicas 

Vassourinhas (Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas) – Orquestra de Frevos do Recife
Valores do Passado (Edgar Moraes) – Grupo Romançal
Mulata (Irmãos Valença) – Expedito Baracho
É de Amargar (Capiba) – Claudionor Germano
Evocação no. 1 (Nelson Ferreira) – Bloco Batutas de São José
Oh! Julia/ Casinha Pequenina/ Gosto de Te Ver Cantando/ Linda Flor da Madrugada (Capiba) – Claudionor Germano
Relembrando o Norte (Severino Araújo) – Orquestra Tabajara
Come e Dorme (Nelson Ferreira) – Nelson Ferreira e sua Orquestra
Frevo no.1 do Recife (Antonio Maria ) – Maria Bethânia
Frevo (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) – Chico Buarque
No Cordão da Saideira (Edu Lobo) – Edu Lobo
Pelas Ruas do Recife (Marcos e Paulo Valle) – Marcos Valle
Frevo Rasgado (Gilberto Gil/ Bruno Ferreira) – Gilberto Gil
Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso) – Caetano Veloso
Banho de Cheiro (Carlos Fernando) – Elba Ramalho
Festa do Interior (Moraes Moreira/ Abel Silva) – Gal Costa
Frevo Mulher (Zé Ramalho) – Amelinha
Chego Já (Alceu Valença) – Alceu Valença
Madeira Que Cupim Não Roi (Capiba) – Antonio Nóbrega
Me Segura Que Senão Eu Caio (J. Michilles) – Alceu Valença
Realeza Linda (Carlos Fernando/ Geraldo Azevedo) – Geraldo Azevedo
Bom Danado (Luis Bandeira/ Ernani Seve) – Lenine










Jovem guarda

"O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está ultrapassada." Descontextualizada pelo publicitário Carlito Maia, a frase do líder soviético Vladimir Lênin batizou no Brasil, em 1965 um dos programas de TV de maior audiência da época: o Jovem Guarda, apresentado pelos emergentes cantores e ídolos juvenis Roberto Carlos (O Rei), Erasmo Carlos (O Tremendão) e Wanderléa (A Ternurinha). No auge da sua popularidade, ele chegou a alcançar três milhões de espectadores só em São Paulo, de onde era transmitido (em videotape, ele chegava também ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife). Mais do que uma boa idéia para preencher o horário que ficou vago por causa da proibição da transmissão direta dos jogos do campeonato paulista de futebol, mais do que uma excelente forma de derrotar o Festival da Juventude (líder de audiência da TV Excelsior desde 1964) e de vender um monte de quinquilharias (de discos a calças, blusas e até bonecas), o programa Jovem Guarda foi o catalizador de um movimento que pôs a música brasileira em sintonia com o fenômeno internacional do rock (a esta altura, no seu segundo momento, o da invasão britânica liderada pelos Beatles) e deu origem a toda uma nova linguagem, musical e novos padrões de comportamento.

Entravam em cena as guitarras elétricas (incorporadas de vez à música brasileira mais típica pelo movimento seguinte, a Tropicália), a idéia de uma música exclusivamente jovem, com signos jovens (mais até do que na bossa nova) e toda uma constelação de artistas: Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Eduardo Araújo, Martinha, Ed Wilson, Waldirene (A Garota do Roberto), Leno & Lílian, Deny e Dino, Bobby Di Carlo e grupos como Golden Boys, Renato & Seus Blue Caps, Os Incríveis, Os Vips e tantos outros. O programa de TV acabou em 1969, mas a estética da Jovem Guarda nunca deixou de estar presente na música brasileira feita a partir da década de 70.

Primeiros ídolos 

Os primórdios do movimento devem ser procurados na segunda metade dos anos 50, quando o país começou a ser exposto à informação rock’n’roll, através dos discos de Elvis Presley e Bill Haley, da Revista do Rock e de programas como Hoje É Dia de Rock (de Jair de Taumaturgo, na Rádio Mayrink Veiga carioca), Clube do Rock (de Carlos Imperial, na TV-Rio) e Crush em Hi-Fi (na TV Record, de São Paulo). No fim da década, o país ganhous seus primeiros ídolos do rock: a paulista Cely Campello (de Estúpido Cupido, versão de Stupid Cupid, de Neil Sedaka), Carlos Gonzaga (de Diana, versão para música de Paul Anka), Sérgio Murilo (de Marcianita e Broto Legal), Tony Campello (irmão de Cely), Demétrius, Albert e Meire Pavão. Eles representaram o rock em sua vertente mais adocicada, a das baladas. O contraponto selvagem, da eletricidade, de Elvis e Chuck Berry, ainda estava sendo gestado.

Na Tijuca, bairro do subúrbio carioca, essa era a curtição de uma turma de rapazes que se reunia na Rua do Matoso. Em 1958, China, Arlênio, Trindade, Tim Maia, Erasmo Carlos e Roberto Carlos formaram o grupo Os Sputniks, que acabou no mesmo ano, mas não sem antes chamar a atenção de um sambista de idéias elétricas que andava pela área: Jorge Duílio Lima Meneses, o Jorge Ben. Em 1960, o rock da Juventude Transviada brasileira teria seu primeiro sucesso: Rua Augusta, de Ronnie Cord (Ronald Cordovil). Mas era tarde: o gênero começava a perder seu impacto, acossado pela bossa nova. No começo da década, Cely Campello deixou a música para se casar e Roberto Carlos foi cantar bossa.

O rock, porém, resistia nos subúrbios de Rio e São Paulo, onde surgiram grupos vocais como Golden Boys (de Alguém na Multidão) e Trio Esperança (de A Festa do Bolinha, formado por irmãs dos Golden Boys) e instrumentais, na onda do Twist (inspirada pelo sucesso Let’s Twist Again, de Chubby Checker), como Renato & Seus Blue Caps (no qual Erasmo Carlos chegou a cantar), The Jordans, The Jet Blacks e The Clevers (futuro Os Incríveis). No entanto, Sérgio Murilo, Ronnie Cord e Demétrius seguiram década adentro fazendo rock-balada, ao lado de recém-chegados como George Freedman (Coisinha Estúpida) e Wanderléa.

Início do reinado 

Mas, em 1963, um renovado Roberto Carlos apereceu com Splish Splash(versão de Erasmo para música de Bobby Darin), rock que daria título ao seu LP daquele ano. Parei na Contramão, o sucesso seguinte, abriu o caminho para o seu grande estouro: O Calhambeque. Com isso, Roberto não só renovou sua inscrição no clube do rock, como iniciou seu reinado naquele cenário que mais tarde seria conhecido como Jovem Guarda. Calhambequeseria o destaque de seu LP seguinte, É Proibido Fumar, cuja faixa-título tornou-se outro clássico. O grande parceiro de Roberto, Erasmo Carlos, também começava nessa época sua carreira solo, com o sucesso Minha Fama de Mau.

Em 22 de agosto de 1965, quando o programa Jovem Guarda estreou, o cenário do movimento estava quase que completamente montado – Wanderley Cardoso era O Bom Rapaz, Eduardo Araújo O Bom, Jerry Adriani O Italianíssimo, Martinha O Queijinho de Minas, Rosemary A Boneca Loura Que Canta, Ronnie Von O Pequeno Príncipe. Outros que também chegaram: Sérgio Reis, Antonio Marcos, Vanusa, Agnaldo Rayol, The Fevers, Ed Wilson (irmão de Renato e Paulo César Barros, do Renato & Seus Blue Caps), Prini Lorez, The Pop’s... Naquelas "jovens tardes de domingo", a palavra de ordem era iê-iê-iê, adpatação do "yeah, yeah, yeah!", da música She Loves You, dos Beatles – não por acaso, o filme do quarteto, A Hard’s Day Night, foi exibido no Brasil com o título de Os Reis do Iê-Iê-Iê. A maior parte das letras eram ingênuas e recatadas, e boa parte das músicas, versões de sucessos do rock americano, britânico, italiano e até japonês – Erasmo Carlos, Renato Barros e Rossini Pinto eram os grandes versionistas.

Havia, porém, quem insistisse em compor – os de maior destaque foram a dupla Roberto & Erasmo, Getúlio Côrtes (de Negro Gato, cantada por Roberto), Leno, Carlos Imperial e o próprio Rossini. As relações entre a jovem guarda e a bossa nova nem sempre foram cordiais. Havia quem, como Jorge Ben, transitasse entre os dois programas:o Jovem Guarda e o Fino da Bossa. Mas Elis, que apresentava o Fino com Jair Rodrigues, chegou a liderar uma passeata contra as guitarras elétricas.

Em 1965, Roberto deu o nome do programa ao seu LP: Jovem Guarda veio com os clássicos Quero Que Vá Tudo Pro Inferno e Mexericos da Candinha. Em pouco tempo, a moda adotada pelos apresentadores tinha se espalhado pelo país (e dá-lhe calças colantes de duas cores em formato boca-de-sino, cintos e botinhas coloridas, minissaia com botas de cano alto), bem como seus gestos e gírias – broto, carango, legal, coroa, cuca, barra limpa, barra suja, lelé da cuca, mancada, pão, papo firme, maninha, pinta, pra frente e, "É uma brasa, mora?", tudo veio da Jovem Guarda.

Explosão nas garagens 

E o sucesso só fazia crescer: em 1966, o sucesso de Roberto com O Calhambeque havia chegado a Portugal, França, Argentina, Uruguai e México. No mesmo ano, o Jovem Guarda realizou seu I Festival de Conjuntos, do qual participaram cerca de cinco mil. O primeiro colocado foi o grupo paulista Loupha, com o cover para I Can’t Let Go, dos ingleses The Hollies, e o segundo, o gaúcho The Cleans. Um sinal da explosão no país dos grupos de garagem, que saíam se apresentando em clubes sociais, rádios, televisões regionais, festas de igreja e aniversários e logo estariam embarcando na viagem psicodélica dos americanos e ingleses – caso dos paulistanos Mutantes, de Rita Lee e dos irmãos Sérgio e Arnaldo Dias Baptista.

O ano de 1967 traria inesperadas novidades. Por sugestão da irmã Maria Bethânia, o baiano pós-bossanovista Caetano Veloso começou a ver o iê-iê-iê com outros olhos. Ao mesmo tempo, o amigo Gilberto Gil converteu-se aos Beatles. Resultado: no III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, Gil estaria apresentando seu Domingo no Parque com os Mutantes e Caetano sua Alegria, Alegria com os argentinos Beat Boys. Era a Tropicália, que mais tarde seria apresentada no disco-manifesto Panis et Circencis. Ao mesmo tempo, a Jovem Guarda iniciava o seu declínio. Em 1968, Roberto Carlos ganhou o Festival de San Remo com Canzone Per Te, de Sergio Endrigo e, no ano seguinte, estaria iniciando sua fase romântica, na qual seguiu pelas décadas de 70, 80 e 90, como um dos maiores cantores brasileiros.

Logo o programa saiu do ar e a Jovem Guarda se desmanchou. Cada um foi para um lado. Houve quem seguisse Roberto na carreira de cantor romântico (Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Ronnie Von), quem continuasse no rock (Erasmo, Leno sem Lilian, Os Incríveis) e quem se bandeasse para o brega (Agnaldo Rayol e Reginaldo Rossi, que liderou a banda The Silver Jets em Recife), música sertaneja (Nalva Aguiar, Sérgio Reis) ou mesmo rock rural (Eduardo Araújo). Os Fevers se tornaram uma das mais ativas bandas de bailes e de estúdios e os Golden Boys gravaram coros em muitos discos de MPB.

Nos anos 80, o Rock Brasil trouxe de volta músicas da Jovem Guarda em regravações de Lulu Santos (O Calhambeque), Blitz (Biquíni de Bolinha Amarelinha, de Sérgio Murilo), Léo Jaime (Gatinha Manhosa, de Erasmo) e Patife Band (Tijolinho, de Bobby di Carlo). Era o ensaio de um revival, que efetivamente ocorreria em 1995, na comemoração dos 30 anos do programa. Remanescentes do movimento (Wanderléa, Erasmo Carlos, Ronnie Von, Bobby de Carlo, Os Vips, Os Incríveis, Martinha, Leno e Lilian, Golden Boys, entre outros) regravaram seus sucessos em uma caixa de cinco CDs e fizeram uma série de concorridos shows conjuntos. Ao mesmo tempo, relançamentos em CD trouxeram de volta quase todo o acervo de gravações originais. E, nos anos 90, as bandas de rock, mais do que nunca, regravaram o repertório da Jovem Guarda: o Barão vermelho foi de Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo, os Engenheiros do Hawaii de Era um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones, o Skank de É Proibido Fumar e Paulo Ricardo de Você Não Serve Para Mim.


Músicas 

Quero Que Vá Tudo Pro Inferno – Roberto Carlos
Calhambeque – Roberto Carlos, versão para Road Hog, de John Loudermilk
Festa de Arromba – Erasmo Carlos
Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo – Erasmo Carlos
Gatinha Manhosa – Erasmo Carlos
O Bom – Eduardo Araújo
Prova de Fogo – Wanderléa
Menina Linda – Renato & Seus Blue Caps, versão para I Should Have Known Better, dos Beatles
Pensando Nela – Golden Boys, versão para Bus Stop, do The Hollies
Pobre Menina – Leno & Lilian, versão para Hang on Sloopy, do The McCoys
Coruja – Deny & Dino
Tijolinho – Bobby Di Carlo
Coração de Papel – Sérgio Reis
Eu Daria Minha Vida – Martinha
Era um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones – Os Incríveis, versão de música do italiano Gianni Morandi









Mangue beat

Movimento musical surgido na cidade de Recife, no começo dos anos 90, quando bandas como Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A decidiram misturar a música pop internacional de ponta (o rap, as várias vertentes eletrônicas e o rock neopsicodélico inglês) aos gêneros tradicionais da música de Pernambuco (maracatu, coco, ciranda, caboclinho etc.). Originalmente chamado de Mangue Bit (bit entendido como unidade de memória dos computadores), o movimento teve seu primeiro manifesto,Caranguejos com Cérebro, escrito pelo ex-punk Fred 04 (do Mundo Livre) e Renato L, publicado pela imprensa local em 1992. "Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama. Ou um caranguejo remixando Anthena, do Kraftwerk, no computador", explicavam.

O "núcleo de pesquisa e produção de idéias pop" articulado por essa juventude recifense tinha como objetivo "engendrar um circuito energético, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop". Surgia a denominação de "mangueboys e manguegirls". "(...) São indivíduos interessados em: quadrinhos, TV interativa, antipsiquiatra, Bezerra da Silva, hip hop, midiotia, artismo, música de rua, John Coltrane, acaso, sexo não-virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência", dizia o manifesto.

No começo dos anos 80, Chico Science (ou melhor, Francisco França) era integrantes da Legião Hip Hop, equipe de dança de rua que imitava osbreakers americanos. Com o guitarrista Lúcio Maia e Alexandre Dengue, participou do grupo de rock pós-punk Loustal. Da fusão do Loustal com o bloco de samba-reggae Lamento Negro, surgiu no começo dos anos 90 a Nação Zumbi, que estreou nos palcos de Recife em junho de 91. A Soparia de Roger (citado por Chico Science na música Macô)e o bar Arte Viva, em Boa Viagem, acolheram as primeiras manifestações dos mangueboys.

Mangue na mídia 

Propagada por Chico e pelo Mundo Livre, logo a batida do Mangue (Mangue Beat) estaria chegando ao Sudeste, onde, depois de algumas entusiasmadas reportagens em jornais, as principais gravadoras do país se interessaram por aquela novidade vinda de uma cidade nordestina de forte tradição musical que quase duas décadas antes havia revelado seu último grande produto pop: Alceu Valença. A Sony contratou Chico e a Nação Zumbi e o selo Banguela Discos (dos Titãs) ficou com o Mundo Livre.

Em 1993, seriam lançados, respectivamente, seus discos de estréia, Da Lama ao Caos e Samba Esquema Noise (título que logo denunciou a influência de Jorge Ben – seu disco de estréia se chamou Samba Esquema Novo – sofrida pelo Mundo). Com as músicas A Cidade e A Praieira, bem-engendradas fusões de rap com maracatu, a Nação saiu à frente em termos de reconhecimento popular – isso, apesar de os dois discos terem sido igualmente muito bem recebidos pela crítica musical de todo o país.

No rastro da duas bandas, vieram outros grupos de Recife dedicados às misturas do pop com a música regional: Jorge Cabeleira e o Dia em Que Seremos Todos Inúteis, Mestre Ambrósio, Cascabulho, Sheik Tosado. Houve outras, porém mais tradicionalmente roqueiras, como Devotos do Ódio (banda punk da favela de Alto José do Pinho), Querosene Jacaré e Eddie, e algumas filiadas ao rap, como o Faces do Subúrbio (também do Alto) e Sistema X.

O Abril Pro Rock, festival anual que inicialmente se restringia à cena de Recife, aos poucos abriu seu espaço para bandas (principalmente as novas) de todo o país, acabando por se tornar o mais importante evento da nova música pop do Brasil. Paralelamente à cena mangue, Recife também viu o cinema ganhar fôlego, com produções como o Baile Perfumado, dos diretores Paulo Caldas e Lírio Ferreira, que teve trilha sonora feita por Chico e o Nação, Fred 04, Mestre Ambrósio, entre outros.

Caranguejos chegam à Europa

Destaque absoluto da cena de Recife, Chico Science & Nação Zumbi ganharam o país e embarcaram em 1995 numa bem-sucedida turnê européia ao lado os Paralamas do Sucesso – em alguns shows, foram até a atração principal. Em 1996, lançaram sua obra-prima, o disco Afrociberdelia, em que o maracatu da banda ficou mais eletrônico e internacional, com participações especiais de artistas como Gilberto Gil, que gravou na faixaMacô. O primeiro sucesso do disco, Maracatu Atômico (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina) fazia outra ligação com a geração anterior da MPB.

Meses depois, no dia 2 de fevereiro de 1997, Chico morreu num acidente de carro em Recife, deixando órfã toda uma geração de mangueboys emanguegirls. Alguns apostaram que seria o fim desse movimento, freqüentemente comparado ao Tropicalismo. Mas os artistas do Mangue Beat procuraram outros caminhos dentro da diversidade. Aparaceram trabalhos elogiados como o do ex-percussionista do Mundo Livre Otto (Samba pra Burro, eleito o melhor disco de 1998 pela Associação Paulista dos Criticos de Arte), do DJ Dolores e da cantora e tecladista Stella Campos.


Músicas 

Computadores Fazem Arte – Chico Science & Nação Zumbi
Rios, Pontes e Overdrives – Chico Science & Nação Zumbi
A Cidade – Chico Science & Nação Zumbi
Macô – Chico Science & Nação Zumbi
Maracatu Atômico – Chico Science & Nação Zumbi
Livre Iniciativa – Mundo Livre S/A
Quem Tem Bit Tem Tudo – Mundo Livre S/A
Punk Rock Hardcore Lá no Alto Zé do Pinho – Devotos do Ódio
Se Zé Limeira Sambasse Maracatu – Mestre Ambrósio










Maracatu

Para ordenar a administração dos negros trazidos como escravos para o Brasil a partir de 1538, os colonizadores portugueses incentivaram a instituição de reis e rainhas negros protegidos pelas irmandades de N.S. do Rosário e São Benedito. Os préstitos de coroação deram origem aos folguedos musicais do maracatu, informa o historiador Leonardo Dantas Silva em seu ensaio Maracatu: presença da África no carnaval do Recife, publicado em 1988 pelo Centro de Estudos Folclóricos da Fundação Joaquim Nabuco. O desaparecimento da instituição do rei do Congo (Muchino Riá Congo) com a abolição da escravatura levou o maracatu a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval.

O historiador Pereira da Costa (Folk-lore pernambucano, Recife 1908) citado por Dantas Silva, descreve a suntuosidade das seculares nações do maracatu como a Cambinda Velha, que antecipa o luxo das escolas de samba: "O estandarte de veludo era bordado a ouro como as vestes dos reis e dignatários da corte, todos de luva de pelica branca e finos calçados". Nas sedes das agremiações como Nação Elefante (de 1800), Leão Coroado (1863), Estrela Brilhante (1910), Indiano (1949) e Cambinda Estrela (1953) havia até trono com dossel para assento dos monarcas.

Através de pesquisas de campo realizadas entre 1949 e 1952 reunidas no livro Maracatus do Recife (Irmãos Vitale, 2ª edição, 1980) o maestro Guerra-Peixe decupou as camadas da percussão do setor: "o tarol anuncia levemente um ritmo rufado, intercalado de pausas. Quase no mesmo instante, o gonguê (agogô) entra na cadência antecedendo as caixas de guerra. O tarol já passou do esquema inicial às variações quando entram os zabumbas. O marcante acrescenta espaçados e violentos baques (sinônimo de toques, daí o baque solto e baque virado). O meião segue o toque do marcante e por fim os repiques aumentam a intensidade do conjunto". Esta cadência, da qual se aproxima o coco alagoano, sempre fascinou tanto compositores eruditos como Guerra Peixe e Marlos Nobre quanto os autores populares conterrâneos como o frevista Capiba (Maracatu ElefanteCadê os Guerreiros?, É de Tororó), Irmãos Valença e o poeta Ascenso Ferreira, além de recriadores do folclore como a paulista Inezita Barroso e o armorial Antonio Nóbrega.

Marcas na MPB 

Numa breve estadia no Recife, o baiano Dorival Caymmi, em 1945, criou o épico Dora ("rainha do frevo e do maracatu/ ninguém requebra nem dança melhor do que tu"). Os Trigêmeos Vocalistas, um dos inúmeros grupos vocais dos anos 40/50 também gravaram maracatus como o sambista carioca Jamelão. Ao lançar-se em pleno bunker da bossa nova, o Beco das Garrafas, em 1963 o carioca Jorge Ben no abre-alas Mas Que Nada cantava seu samba "misto de maracatu", um samba de preto (ban)tu. Em 1973, Gilberto Gil estourou nas paradas com o single Maracatu Atômico, da dupla Jorge Mautner e Nelson Jacobina.

Da geração 70 dos nordestinos emigrados para o sul, Alceu Valença foi o que mais utilizou o gênero puro ou estilizado. Em Cavalo de Pau (1982) musicou o poema Maracatu ("zabumbas de bombos/ estouros de bombas/ batuques de ingonos/ cantigas de banzo/ rangir de ganzás") de Ascenso Ferreira e chegou a denominar um de seus discos Maracatus, Batuques e Ladeiras (1994). O gênero transfigurado por Egberto Gismonti em Maracatu, incluído em seu disco Alma (1986) e nas miscigenações do armorial de vanguarda Antúlio Madureira (Maracatu Indiano) mereceu abordagem quase didática da dupla pernambucana Lenine e Lula Queiroga no LP Baque Solto (1983). Mas foi com o movimento mangue beat – uma busca de revitalizar as raízes locais através da ótica eletrônica – que Chico Science & Nação Zumbi colocaram o estilo no centro do palco.

Até o ancestral maracatu rural dos cortadores de cana voltou ao foco reunindo 75 grupos na cidade Tabajara, em Olinda no carnaval de 2000. No ano anterior, o fotógrafo Pedro Ribeiro e a professora Maria Lúcia Montes, da USP, estudaram as agremiações formadas por lanceiros, calungas, tuxaus (referência aos pajés, com cocares) e baianas no livro Maracatu de baque solto (Editora Quatro Imagens). Grupos como o ortodoxo Maracatu Nação Pernambuco, gravado em CD pela Velas em 1993, pelo produtor J.C. Botezelli, o Pelão e o progressivo Mestre Ambrósio, propagam o maracatu. A invenção dos escravos – que tiveram um "governador dos crioulos, negros e mulatos", Henrique Dias, nomeado em 1639, pelos portugueses – hoje pontua da muralha percussiva do carioca Pedro Luís e a Parede ao sobrevôos eletrônicos de Lenine.


Músicas

Coroa Imperial (Paulo Lopes/ Sebastião Lopes) – Maracatu Nação Pernambuco
Verde Mar de Navegar (Capiba) – Claudionor Germano
Maracatu Elegante (José Prates) – Inezita Barroso
Pai Joaquim (Geraldo Medeiros) – Jamelão
Mas Que Nada (Jorge Ben) – Jorge Ben
Maracatu Atômico (Nelson Jacobina/ Jorge Mautner) – Gilberto Gil
Maracatu (Egberto Gismonti) – Egberto Gismonti
Maracatu (Alceu Valença/ Ascenso Ferreira) – Alceu Valença
Mateus Embaixador (Antonio Nóbrega) – Antonio Nóbrega
Três Vendas (Siba) – Mestre Ambrósio
Maracatu Silêncio (Zé Rocha/ Erasto Vasconcellos) – Lenine
Maracatu Indiano (Antúlio Madureira) – Antúlio Madureira
Fazê o Quê? (Pedro Luis) – Pedro Luis e a Parede
A Praieira (Chico Science) – Chico Science & Nação Zumbi
Candeeiro Encantado (Lenine/ Paulo Cesar Pinheiro) – Lenine










Marchinha

Mais até do que o samba-enredo, a marcha é reconhecida como a música de carnaval no Brasil. No seu período áureo, que se estendeu dos anos 20 aos anos 60, ela foi a responsável por algumas das canções mais populares do país (até mesmo nas décadas seguintes), reunindo no seu time de compositores alguns dos mais importantes nomes da música popular. De Chiquinha Gonzaga (que escreveu para o cordão Rosa de Ouro em 1899 a marchinha inaugural, Ô Abre Alas, também a primeira música a ser feita especialmente para o carnaval) a Moraes Moreira (que fez com Fausto Nilo aCoisa Acesa, já na década de 80), passando por Noel Rosa, João de Barro, Ary Barroso, Lamartine Babo e Mário Lago, muitos foram os que se esmeraram ano após ano para serem os autores da música que o público passaria os quatro dias de folia cantando.

Com o compasso binário da marcha militar, andamento acelerado (mais ainda a partir da metade do século XX, por causa da influência das big bands de jazz), melodias simples e alegres (para grudar nos ouvidos com facilidade) e letras com boa dose de picardia (não raro valendo-se do duplo sentido), as marchinhas guardam um espírito tipicamente carioca, tendo funcionado muitas vezes como uma crônica musical da cidade. Até 1920, quando Sinhô chegou com O Pé de Anjo, boa parte das marchinhas era importada. Entre as mais notórias, as portuguesas Vassourinha, muito cantada no carnaval de 1912, e A Baratinha, de Mário São João Rebelo, sucesso em 1917. A produção nacional deslancharia com composições de Eduardo Souto (de Eu Quero É BeliscarGoiabadaSó Teu Amor, Não Sei Dizê, Pai Adão), Freire Júnior (Ai, Amor) e Sinhô (Fala Baixo, Não Quero Mais, Sai da Raia).

Época de ouro 

A marchinha reinou na música brasileira a partir da década de 30, nas vozes de Carmen Miranda, Almirante, Mário Reis, Dalva de Oliveira, Silvio Caldas, Jorge Veiga e Black-Out. Entre confete, lança-perfume e serpentina, eram eles quem entoavam as composições de João de Barro, o Braguinha (autor, junto com Alberto Ribeiro, de algumas das mais célebres marchinhas, comoChiquita BacanaYes! Nós Temos Bananas e Touradas em Madri), Noel Rosa (o poeta da Vila é co-autor de Pierrô Apaixonado), Ary Barroso (Eu Dei) e Lamartine Babo (Linda Morena).

Na entrada dos anos 60, a popularização dos desfiles de carnaval marcou o início da ascensão do samba-enredo e o declínio da marchinha e dos blocos. José Roberto Kelly foi um dos últimos compositores que brilharam no gênero, com Cabeleira do Zezé Mulata Iê-Iê-Iê. Após o AI-5, quando a censura se instalou de vez (nada contente com a malícia das letras), a marchinha passou a ser objeto de iniciativas isoladas, como as de Caetano Veloso (Samba, Suor e Cerveja) e Chico Buarque (O Boi Voador). Composição da dupla João de Barro-Alberto Ribeiro, lançada sem sucesso em 1937, Balancê tornou-se, em 1980, uma das músicas mais tocadas do ano, na voz de Gal Costa – e foi este o último suspiro da marchinha.


Músicas 

Ô Abre Alas (Chiquinha Gonzaga)
Cidade Maravilhosa (André Filho) – Aurora Miranda
Pierrô Apaixonado (Noel Rosa e Heitor dos Prazeres)
Touradas em Madri (João de Barro e Alberto Ribeiro)
Chiquita Bacana (João de Barro e Alberto Ribeiro) – Emilinha Borba
Taí (Joubert de Carvalho) – Carmen Miranda
Florisbela (Nássara e Frazão)
A Jardineira (Benedito Lacerda e Humberto Porto)
O Teu Cabelo Não Nega (Irmãos Valença e Lamartine Babo) – Castro Barbosa
Yes, Nós Temos Bananas (João de Barro e Alberto Ribeiro)
Sassaricando (Luís Antônio, Jota Júnior e Oldemar Magalhães) – Rita Lee
Linda Morena (Lamartine Babo)
Alá-Lá-Ô (Haroldo Lobo e Nássara)
Mamãe Eu Quero
 (Jararaca e Vicente Paiva) – Carmen Miranda
Eu Dei (Ary Barroso) – Carmen Miranda
Pirata da Perna de Pau (João de Barro)
Aurora (Roberto Riberti e Mário Lago)
Cachaça 
(Lúcio de Castro, Heber Lobato, Marinósio Filho e Mirabeau) – Carmen Costa
Me Dá Um Dinheiro Aí (Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan Ferreira)
Mulata Iê-Iê-Iê (José Roberto Kelly) – Emilinha Borba
Cabeleira do Zezé (João Roberto Kelly e Roberto Faissal) – Jorge Goulart
Maria Sapatão (Chacrinha)
Balancê (João de Barro e Alberto Ribeiro) – Gal Costa
Coisa Acesa (Moraes Moreira e Fausto Nilo) – Moraes Moreira









Pagode

Está no dicionário: templo pagão asiático. Mas no Brasil, a palavra pagode passou a denominar também um tipo de festa "com comida e bebida, de caráter íntimo", na definição acadêmica do folclorista Câmara Cascudo. Em qualquer festa que se preze, porém, não pode faltar música alegre – e aí, naturalmente, entra o samba. Foi ele que fez do pagode uma das mais fortes tradições dos subúrbios do Rio de Janeiro. Um quintal guarnecido pela sombra das árvores, algumas caixas de cerveja, uns quitutes, um cavaquinho ali, mesinhas para se batucar... está formado o cenário para que os versadores e instrumentistas mostrem sua categoria, o público sambe animado e a tarde entre pela noite e a noite pela madrugada. Ao longo dos anos 70, quando os emergentes sambistas se viram diante do bloqueio das rádios e das próprias escolas de samba (reféns de um Carnaval comercializado), os pagodes se tornaram a melhor opção para que suas composições fossem ouvidas e divulgadas.

Das mais famosas cantoras de samba da época (junto com Alcione e Clara Nunes), Beth Carvalho certo dia foi investigar o pagode do Cacique de Ramos e levou alguns daqueles compositores ainda desconhecidos para o seu disco de 1978, De Pé no Chão. Foi a partir daí que o Brasil tomou conhecimento de nomes como o grupo Fundo de Quintal dos compositores Arlindo Cruz e Sombrinha (Vou Festejar), os ex-Fundo Jorge Aragão (Coisinha do Pai) e Almir Guineto (que tirou terceiro lugar no festival MPB Shell, de 1981, com Mordomia), Zeca Pagodinho (Camarão que Dorme a Onda Leva), Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila (de Por um Dia de Graça, gravado mais tarde por Simone), entre outros. Astros desse novo samba, que rumava para o futuro com um sólido embasamento no passado, eles protagonizariam mais tarde, a partir de 1986 um dos movimentos de melhor resultado comercial da história da música brasileira: o pagode. Ironicamente, por uma contingência de marketing e mídia, a festa passou a emprestar seu nome à música que a anima.

Coube ao Fundo de Quintal introduzir as inovações instrumentais e harmônicas do pagode em relação ao tradicional samba. Para reforçar o cavaquinho, Almir Guineto trouxe o banjo, que soa mais alto no meio da massa sonora. No lugar do pesado surdo, Ubirani pôs o leve e versátil repique de mão. Jorge Aragão, por sua vez, trouxe para os sambas as harmonias mais intrincadas, aparentadas da bossa nova (e, graças a suas sofisticadas letras, ficaria conhecido como O Poeta do Samba). Inicialmente divulgados por Beth Carvalho e outros nomes de destaque do samba, esses artistas em pouco tempo conquistaram luz própria.

Nomes novos nas paradas 

Em carreira solo, Guineto foi um dos sambistas de maior sucesso dos anos 80 com músicas como o jongo CaxambuMel na Boca, Jibóia e Conselho. Ex-empregada doméstica, revelada em 1985 no LP Raça Brasileira (junto com Zeca Pagodinho, Elaine Machado, Mauro Diniz e Pedrinho da Flor), Jovelina Pérola Negra estourou Feirinha da PavunaBrincadeira Tem Hora e O Bagaço da Laranja. O ex-cantor de coco Bezerra da Silva também fez muito sucesso com sambas irreverentes, mas de alto teor de crítica social, como Defunto CagueteMalandragem Dá Um Tempo, Bicho Feroz, recolhidos entre a sua equipe de compositores do morro. Zeca Pagodinho, por sua vez, ganhou a atenção popular com S.P.C., Casal Sem Vergonha, Judia de Mim e Coração em Desalinho.

No meio da euforia consumista do Plano Cruzado, em 1986, os pagodeirosse mostraram excelentes vendedores de discos (sempre mais de 100 mil cópias por lançamento) e conquistaram seu quinhão na grande mídia: simplesmente não saíram do rádio e da TV (gravaram videoclipes e participaram até do programa de Natal de Roberto Carlos). De curtição exclusivamente suburbana, os pagodes (a música e a festa, com seus quitutes típicos) tornaram-se moda também nos bairros da elitista Zona Sul carioca e nos mais diversos recantos Brasil adentro. O ímpeto aos poucos diminuiu, com a conseqüente queda de poder aquisitivo do seu maior público consumidor – as classes menos abastadas. Logo, uma nova modalidade de samba, bem mais comercial e desvinculada das raízes, passaria a ser conhecida como pagode. Em São Paulo, no começo da década de 90, uma variação mais pop do samba-rock dos bailes deu as caras em músicas de bandas como o Raça Negra e o Negritude Júnior.

Linha de montagem 

Esse pagode suingado, também conhecido como samba mauriçola (por causa da opção dos músicos pelos símbolos de status da classe alta – roupas finas, telefones celulares e namoradas louras) foi um dos grandes sucessos ao longo da década, com músicas de refrões fáceis e romantismo deslavado (não raro encomendadas a hitmakers profissionais), predominância de instrumentos eletrônicos e coreografias de gosto duvidoso. Como se houvesse uma linha de montagem, os grupos se multiplicaram por todo o país: Só Pra Contrariar (que teve seu nome tirado do título de música do Fundo de Quintal e bateu em 1998 a marca de três milhões de cópias vendidas de um único disco), Cravo e Canela, Ginga Pura, Razão Brasileira, Molejo, Exalta Samba, Soweto, Malícia, Os Morenos, Ki Loucura, Katinguelê, Art Popular, Karametade, Só No Sapatinho, Sensação, Toke Divinal e outros menos votados. Na Bahia, esse pagode foi relido com pitadas de ritmos locais como o samba-reggae e samba duro, por bandas como o Gera Samba (futuro É o Tchan) e Terra Samba.

Mas o chamado samba de raiz, do começo do fenômeno pagode, viveu alguns bons momentos na segunda metade dos anos 90, com Zeca Pagodinho (que estourou músicas como Samba Pras Moças Faixa Amarela), Martinho da Vila, Beth Carvalho e Bezerra da Silva, então convertido em culto entre as bandas de rock, que regravaram de Malandragem Dá um Tempo (Barão Vermelho e Planet Hemp) e Candidato Caô Caô (O Rappa). A tradição do samba foi resguardada com a descoberta (antes tardia do que nunca) de Walter Alfaiate, Wilson das Neves e das Velhas Guardas da Mangueira e da Portela (esta com disco produzido pela cantora Marisa Monte). Novos nomes do velho samba também apareceram: Dudu Nobre (cavaquinista da banda de Zeca Pagodinho, para quem compôs o sucessoPosso Até Me Apaixonar), Marquinhos de Oswaldo Cruz, Marquinho China e Renatinho da Abolição.


Músicas 

Coisinha do Pai (Jorge Aragão) – Beth Carvalho
Caxambu – Almir Guineto
Só Pra Contrariar (Arlindo Cruz, Sombrinha e Almir Guineto) – Fundo de Quintal
Feirinha da Pavuna – Jovelina Pérola Negra
S.P.C. (Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz) – Zeca Pagodinho
Malandragem Dá um Tempo (Popular P., Adelzonilton e Moacyr Bombeiro) – Bezerra da Silva
Essa Tal Liberdade – Só Pra Contrariar
Posso Até Me Apaixonar (Dudu Nobre) – Zeca Pagodinho 










Rock
Rock brasileiro (conhecido no Brasil como rock nacional), que teve início no final da década de 1950, mas só começou a ter força na década de 1980.
Década de 1950
O "pontapé inicial" do rock no Brasil foi Nora Ney (conhecida cantora de samba-canção) quando gravou o considerado primeiro rock, "Rock around the Clock", de Bill Haley & His Comets (trilha do filme Sementes da Violência), em outubro de 1955, para a versão brasileira do filme. Em uma semana a canção já estava no topo das paradas (mas Nora Ney nunca mais gravou nada no gênero, tirando a irônica"Cansei do Rock", em 1961). Em dezembro, a mesma canção recebia versão em português, "Ronda das Horas" (por Heleninha Ferreira) e outra gravada por um acordeonista, não tão bem sucedidas quanto a "original".
Em 1957, foi gravado o primeiro rock original em português, "Rock and Roll em Copacabana", escrito por Miguel Gustavo (futuro autor de "Para Frente Brasil") e gravada por Cauby Peixoto. Entre 57 e 58, diversos artistas gravaram versões de músicas americanas, como "Até Logo, Jacaré" ("See You Later, alligator"),"Meu Fingimento" ("The Great Pretender" dos The Platters) e "Bata Baby" (Long Tall Sally de Little Richard).[2]
Embora em 57 o grupo Betinho & Seu Conjunto, de "Enrolando o Rock" tenha alcançado grande fama[2], os primeiros ídolos do rock nacional foram os irmãos Tony e Celly Campelo que, em 1958, lançaram o compacto Forgive Me/Handsome Boy, que vendeu 38 mil cópias. Tony gravaria mais dois singles até seu álbum em 1959, e Celly estourou em 1959 com "Estúpido Cupido" (120 mil cópias vendidas), chegando a ter boneca própria (com a qual aparece na capa de seu LP "Celly Campello, A Bonequinha Que Canta").
Os Campello também apresentariam Crush em Hi-Fi na Rede Record, programa totalmente voltado para a juventude, que revelou diversas bandas.Outros programas também surgiram para aproveitar a "febre" como Ritmos para a Juventude (Rádio Nacional-SP), Clube do Rock(Rádio Tupi -RJ) e Alô Brotos! (TV Tupi). Em 1960, surgira até a Revista do Rock.


Década de 1960
O começo da década foi marcado pelo surgimento de grupos instrumentais como The Jet Black's, The Jordans e The Clevers (futuros Os Incríveis), e do cantor Ronnie Cord, que lançaria dois "hinos": a versão "Biquíni de Bolinha Amarelinha" e a rebelde "Rua Augusta".
Até que surge um capixaba que se tornaria o maior ídolo do Rock Nacional dos anos 60 e, posteriormente, o maior nome da música brasileira: Roberto Carlos, que emplacou dois hits em 1963: "Splish Splash" e "Parei na Contramão". No ano seguinte, obteve mais sucessos como "É Proibido Fumar" (mais tarde regravada pelo Skank) e "O Calhambeque". Aproveitando o sucesso, a Rede Record lançou o programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto ("Rei"), seu amigo Erasmo Carlos ("Tremendão") e Wanderléa ("Ternurinha"). Só nas primeiras semanas, atingira 90% da audiência.
Seguindo o sucesso das Jovem Guarda, surgem entre outros, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Jerry Adriani, Eduardo Araújo Ronnie Von, que tinham seu som inspirado nos Beatles (o gênero apelidado "iê-iê-iê") e no rock primitivo. A Jovem Guarda também levou a todo tipo de produto e filmes como Roberto Carlos em Ritmo de Adventura (seguindo a trilha de A Hard Day's Night e Help! dos Beatles).
Apesar disso, os artistas da MPB "declararam guerra" ao iê-iê-iê da Jovem Guarda, chegando a um protesto de Elis Regina, Jair Rodrigues, entre outros, conhecido "Passeata contra as guitarras elétricas". O programa terminaria em 1968, com a saída de Roberto Carlos.
Então, surgiria a Tropicália. Em 1966, surgiram Os Mutantes: Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, com seu deboche e som inovador. Em 1967, a dupla Caetano Veloso e Gilberto Gil faria as canções "Alegria, Alegria" e "Domingo no Parque", apresentadas no III Festival da Rede Record. No ano seguinte, o álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band fascinou a dupla, levando a apresentações vaiadas em festivais de Record e Excelsior, e ao álbum coletivo Tropicália ou Panis et Circensis, com Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto,Capinan, Rogério Duprat e Nara Leão, considerado um dos melhores álbuns brasileiros da história.
Os Mutantes também criariam carreira grandiosa, com álbuns elogiados a partir de 1968 e chegando a influenciar até Kurt Cobain, do Nirvana. O grupo começaria a se desmanchar com a saída de Rita Lee, em 1973.

Década de 1970

O endurecimento do Regime militar levou Caetano e Gil ao exílio em Londres, onde viveram de 1969 a 1972. Durante o período, gravaram dois discos considerados dos seus melhores, Transa (Caetano), e Expresso 2222 (Gil).
Após sair dos Mutantes no final de 1972, Rita Lee iniciou uma muito bem sucedida carreira solo, acompanhada do grupo Tutti Frutti. É nesse período, que ela lança o seu mais memorável álbum: o Fruto Proibido de (1975), disco este, que contém os sucessos "Agora só falta você", "Esse tal de Roque Enrow" e "Ovelha Negra". Arnaldo Baptista também gravou o aclamado Loki? (1974). Os Mutantes ainda atravessaram a década convertidos ao rock progressivo, passando por várias formações e dissolvendo-se em 1978.
Em 1973, surgiram Secos & Molhados, liderados por João Ricardo, com Ney Matogrosso como vocalista, que faziam a chamada "poesia musicada", com canções muito bem elaboradas como "Rosa de Hiroshima" ou "Prece Cósmica", apesar de alguns flertes menos poéticos e mais divertidos como "O Vira". Dois álbuns e um ano depois, em 1974, o grupo com sua formação clássica (João, Ney e Gerson Conrad) se desfez.
Em 1973 também surgiu outro ícone: Raul Seixas, que vendera 600.000 compactos de "Ouro de Tolo" em poucos dias e se tornaria "bardo dos hippies" com músicas debochadas como "Mosca na Sopa" e "Maluco Beleza", esotéricas como "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" e"Gita", e as motivacionais "Metamorfose Ambulante" ( que compunha aos 14 anos) e "Tente Outra Vez".
Movimentos surgiram em outros locais do Brasil: em Minas Gerais, o "Beatlesco" Clube da Esquina, liderado por Milton Nascimento e Lô Borges; e no Nordeste, a "nova onda" dos Novos Baianos, além da chamada "Invasão Nordestina": artistas que misturaram o sertanejo ao rock, como Fagner, Zé Ramalho e Belchior.
Mesmo com o pouco espaço na mídia, várias bandas e estilos se destacavam no circuito underground da época, como o progressivo regional de O Terço (que chegou a gravar um álbum em inglês voltado para o mercado italiano), o hard rock do Made in Brazil, o rock rural deSá, Rodrix e Guarabyra e o hard progressivo do Casa das Máquinas.

Década de 1980
Atribui-se a esta década a popularização do rock brasileiro, movimento que surgiu para aproveitar a onda do estilo musical (rock) que já havia se consagrado mundialmente nos anos 70. Muitas bandas deste estilo, como os Titãs e Os Paralamas do Sucesso permanecem ativas até hoje, fazendo apresentações por todo o Brasil. Outras bandas e artistas da época, como Legião Urbana e Renato Russo, foram imortalizados e tocam nas rádios até hoje, devido ao grande sucesso entre o público, principalmente adolescentes.
Nos anos 80, ocorreu a verdadeira "explosão" do rotulado "BRock". Isso se deve em parte à criação de casas de show, como Noites Cariocas e Circo Voador (Rio) e Aeroanta (São Paulo). As primeiras bandas a fazerem sucesso foram os irônicos Blitz ("Você não soube me amar") e Eduardo Dusek ("Rock da Cachorra", junto com João Penca e Seus Miquinhos Amestrados), no batizado "Verão do Rock", em 1982.
As bandas mais cultuadas dos anos 80 formam um "quarteto sagrado". São elas: Os Paralamas do Sucesso, cariocas (que se conheceram em Brasília) surgidos em 82, com um reggae parecido com o The Police e influência ska de Lauren Aitken ; Titãs, paulistas (mais tarde "suavizados"). Inicialmente, juntavam as estéticas da new wave e do reggae com a da MPB, e, de 1982 à 1984, a banda era formada por nove integrantes - além dos músicos que continuam no grupo, fizeram parte do conjunto: Ciro Pessoa (vocais), Arnaldo Antunes(vocais), Marcelo Fromer (guitarra) e Nando Reis (baixo/vocais), logo se tornando um octeto, numa formação que duraria até 1992, com a saída de Arnaldo. O baterista do grupo Ira!, André Jung, tocou seu instrumento no primeiro trabalho titânico, depois cedendo seu posto a Charles Gavin; Os cariocas Barão Vermelho, surgidos em 82 e liderados por Cazuza. Com a saída dele (que teve carreira-solo bem sucedida), o guitarrista Frejat assumiu os vocais; e os brasilienses Legião Urbana, liderados por Renato Russo, surgiram em 82, emplacando suscessos como Faroeste caboclo, que chegou ao topo das radios. A banda acabou com a morte de Renato, em 1996. Os outros legionários que compunham a banda eram: Marcelo Bonfá (bateria) e Dado Villa-Lobos (Guitarra). Renato Rocha foi baixista da banda até 1988.
E teve outras também de grandes sucessos na época, como as bandas Sempre Livre, Gang 90 e as Absurdettes, Biquini Cavadão, Hanói Hanói, Hojerizah, Harmony Cats, Lobão e os Ronaldos, Metrô, Magazine, Grafitti,Ed Motta & Conexção Japeri, além de cantores(as) como Marina Lima, Léo Jaime, Ritchie, Kid Vinil, Fausto Fawcett, entre outros.
Vários locais do Brasil tinham suas bandas surgindo no Rio de Janeiro, surgiram os alegres Kid Abelha e Léo Jaime; Uns e Outros e o fim da banda Vímana revelou Lulu Santos, Lobão (também ex-Blitz) e Ritchie; em São Paulo, o Festival Punk de 81 revelou Inocentes, Cólera e Ratos de Porão. Além dessa cena, surgiram as principais bandas paulistas, como Ultraje a Rigor (no qual Edgard Scandurra tocou antes do Ira!), Ira!, Titãs, RPM, Zero, Metrô (banda),e Kid Vinil (então vocalista da banda Magazine). Sem se esquecer da cena independente muito bem representados pelo Fellini, Smack, Voluntários da Pátria, Akira S E Garotas Que Erram, e Mercenárias; em Brasília, o Aborto Elétrico(em que Renato Russo tocara) virou o Capital Inicial (que acabou se fixando em São Paulo), e a Plebe Rude teve o sucesso "Até Quando Esperar"; e no Rio Grande do Sul, os "cabeças" Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós chegaram ao sucesso nacional. Também estouraram bandas gauchas de rock como TNT, Taranatiriça, Cascavelletes, Os Replicantes, Os Eles, Bandaliera,Garotos da Rua, De Falla. Na Bahia, chegou ao sucesso o Camisa de Vênus.
No heavy metal, originou-se em Minas Gerais a banda brasileira de maior sucesso internacional, o Sepultura, que toca o gênero extremo thrash metal, com letras em inglês. Outra banda a conseguir algum destaque no exterior (Japão) foi a paulista Viper, que também escrevia letras em inglês, e que ajudou a desenvolver um estilo que viria a ser chamado de metal melódico no Brasil. O Viper foi também responsável por revelar o vocalista Andre Matos, que participaria de duas grandes bandas brasileiras: Angra e Shaman.

Década de 1990
A década começou com apenas uma novidade: a MTV Brasil, em 1990. E o primeiro "grande grupo" da década foram os mineiros Skank, que misturavam rock e reggae. Ao longo da década, outros grupos mineiros surgiriam, como Pato Fu, Jota Quest e Tianastacia.
Em 1994, surgiu em Recife o movimento Mangue beat, liderados por Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. O movimento misturava percussão nordestina a guitarras pesadas, conquistando a crítica.
Entre 94 e 95 surgiram dois grupos bem-sucedidos pelo humor: os brasilienses Raimundos (94), com o ritmo forrócore" (forró+hardcore) e os guarulhenses Mamonas Assassinas (95), parodiando do heavy metal ao sertanejo, que chegaram a fazer 3 shows por dia e venderam 1,5 milhão de cópias antes de morrerem em um acidente de avião, em 96 (chegaram a 2,6 milhões).
Alguns rappers tiveram ligação íntima com o rock, como Gabriel o Pensador, o Planet Hemp (que pedia a legalização da maconha) e o Pavilhão 9 (que falava de violência policial).
O Sepultura teve um crescimento de popularidade nos anos 90, culminando no álbum Roots, que fez da banda uma das principais do heavy metal mundial na época e lhes rendeu razoável exposição no mainstream. Pouco tempo depois, Max Cavalera, membro fundador e frontman, saiu da banda, dando lugar a Derrick Green.
Seguindo o caminho do Sepultura, o Angra também gravou músicas em inglês, misturando power metal com ritmos tipicamente brasileiros. A banda alcançou sucesso na cena heavy metal brasileira e reconhecimento mundial, sendo muito bem recebidos na França e, principalmente, Japão.
Outros destaques são O Rappa, também reggae/rock; Charlie Brown Jr., um "skate punk" com vocais rap; Cássia Eller, com um repertório de Cazuza e Renato Russo; e Los Hermanos, que surgiram com "Anna Júlia", canção pop que não combinava com a imagem intelectual da banda.
Outro fato da década é que todas as bandas do "quarteto sagrado" (exceto a Legião) tiveram de se reinventar para reconquistar audiência: os Paralamas, depois de uma fase experimental, voltaram às paradas com Vamo Batê Lata (95); o Barão Vermelho, com o semi-eletrônico Puro Êxtase(98); e os Titãs, com seu Acústico MTV (97). Depois de um tempinho, surgiram Wilson Sideral e Flávio Landau (ambos irmãos de Rogério Flausino vocalista do Jota Quest); Wilson Sideral emplacou nas rádios brasileiras o seu primeiro sucesso que foi a faixa "Não pode parar", e depois de um tempo foi "Zero a zero".

Década de 2000
O ano de 2001 foi um ano "trágico" para o rock brasileiro. Herbert Vianna, dos Paralamas, sofreu acidente de ultraleve e ficou paraplégico (mas voltou a tocar); Marcelo Frommer, dos Titãs, morreu atropelado; Marcelo Yuka, d'O Rappa, foi baleado e ficou paraplégico (saiu da banda); e Cássia Eller morreu.
As bandas dos 90 passaram por muitas mudanças: o Skank ficou mais britpop e cheio de experimentalismo nas músicas o que foi visto nos discos Cosmotron (2003) e Carrossel(2006); o líder dos Raimundos, Rodolfo, converteu-se a uma igreja evangélica e saiu da banda para formar o Rodox (que também acabaria algum tempo depois) (atualmente faz carreira solo com músicas gospel);
Também surgiu a banda Detonautas Roque Clube, na ativa desde 1997 mas lançada ao grande público em 2002, que chegou a abrir shows de Red Hot Chili Peppers e Silverchair.
No heavy metal brasileiro, embora permaneçam underground, viu-se o surgimento de novas bandas que conseguiram carreira internacional: Shaman, Hangar, Mindflow, Hibria, Torture Squad, Burning in Hell, Shadowside, entre outras. As bandas consagradas da década passada, como Dr. Sin, permaneceram como grandes nomes na cena metálica, que teve Sepultura e Angra ainda como suas principais figuras. Igor Cavalera, último membro original, deixou o Sepultura em 2006. O Angra também passou por mudanças em sua formação: Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confesori saíram, sendo substituídos por Eduardo Falaschi, Felipe Andreoli e Aquiles Priester, respectivamente. Andre Matos, juntamente com os outros ex-membros do Angra, formaram o Shaman, que logo alcançou o status de grande banda. Atualmente, Andre Matos segue em carreira solo.
Uma das maiores revelações no rock brasileiro foi a cantora baiana Pitty,que emplacou hits como "Semana que Vem","Na Sua Estante" e "Me Adora".
Em 2003, revelou-se no Brasil o movimento musical Norte-americano conhecido como Emotional Hardcore, aceito também como Emo e/ou Emocore, em geral, deteriorado por um grupo preponderante no país que resumiu a alcunha unicamente para "Emo", ainda que por outro lado algumas pessoas julgam ser "Emo" apenas a abreviação de "EMO-tional Hardcore".
Admiradores do sub-género e não apreciadores produziram dúvidas em grandes quantidades sobre esse novo estilo, contudo, há seis anos ele vem se conservando e já existem inumeráveis bandas definidas em todo o território nacional.
Às que exercem maior entusiasmo hoje são: a banda paulista NX Zero, que já lançou seis albuns de estúdio, além de ter obtido diversos prémios, e a gaúcha Fresno (banda), que desde o terceiro álbum, Ciano (álbum), conquista bastante importância no cenário musical e respeito do público que acompanha a trajetória do grupo.
No entanto, existem alguns desacertos acerca da fidelidade dessas duas bandas com o movimento Emocore, fato que não se pode ignorar, em razão de que nenhuma das bandas reconhece nas suas composições um caráter "Emo". A despeito de muita polémica e depoimentos dos próprios integrantes, não há uma confirmação oficial.
Acredita-se, por consequência, que outros conjuntos brasileiros de maior destaque como Sugar Kane e Dead Fish, por exemplo, estão integrados ao movimento, mais uma incorreção difícil de ser explicada, por motivos refutáveis e falta de elucidações genuínas.















Samba

Gênero básico da MPB, o samba tem origem afro-baiana de tempero carioca. Ele nasceu nas casas das "tias" baianas da Praça Onze, no centro do Rio (com extensão à chamada "pequena África", da Pedra do Sal à Cidade Nova), descendente do lundu, nas festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão. Embora antes de Pelo Telefone, assinada por Ernesto dos Santos, o Donga (com Mauro de Almeida) em 1917, outras gravações tenham sido registradas como samba, foi esta que fundou o gênero – apesar da autoria discutida e da proximidade com o aparentado maxixe. Também nesse estilo ambíguo são as principais composições de José Barbosa da Silva, o Sinhô, auto-intitulado "o rei do samba", que junto com Heitor dos Prazeres, Caninha e outros pioneiros estabelece os primeiros fundamentos do setor, que ganharia uma feição mais definitiva com a chamada "turma do Estácio".

Formada por Alcebíades Barcellos, o Bide, Armando Marçal, Newton Bastos e Ismael Silva e mais os malandros/sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem (uma brodagem bem anterior aos manos do hip hop), essa corrente injeta uma cadência mais picotada no samba e tem o endosso de filhos da classe média como o ex-estudante de medicina Noel Rosa e o ex-estudante de direito Ary Barroso, que redimensionam o estilo através de obras memoráveis. Com a explosão da era do rádio a partir dos anos 30, o samba ganha enorme difusão através de cantores como Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas, Mário Reis, Carmen Miranda - que consegue projetá-lo internacionalmente a partir do cinema - e mais adiante Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, entre outros.

Novas adesões como a do refinado baiano Dorival Caymmi, além das harmonias elaboradas de Custódio Mesquita, o molejo de Pedro Caetano, o figurino tropicalista de Assis Valente, a sobriedade de Sinval Silva, o populismo luxuoso de Herivelto Martins e o sotaque interiorano arrastado de Ataulfo Alves conduzem o samba para outros caminhos já ao sabor da indústria musical. A ideologia do Estado Novo de Getúlio Vargas contamina o cenário e do malandro convertido (O Bonde São Januário, de Ataulfo e Wilson Batista) chega-se ao samba-exaltação cujo carro-chefe, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, torna-se o primeiro hino brasileiro no exterior.

Reconhecimento 

Empurrada pela especulação imobiliária, a Pequena África já se espalha por diversos morros e primitivas favelas de onde brotam novos bambas como Cartola, Carlos Cachaça e posteriormente Nelson Cavaquinho e Geraldo Pereira, na Mangueira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacé e Chico Santana, na Portela, Molequinho e Aniceto do Império Serrano, entre inúmeros outros. O samba ganha status de identidade nacional através do reconhecimento de intelectuais como Villa-Lobos, que organiza uma histórica gravação com o maestro erudito americano Leopold Stokowski no navioUruguai, em 1940, de que participam Cartola, Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Zé da Zilda.

Depois da fundação da Deixa Falar por Ismael em 1928, a partir da reunião de blocos do Estácio, o fenômeno das escolas de samba toma conta do cenário. E propulsiona subgêneros, do partido-alto cantado como desafio nos terreiros ao samba-enredo, trilha para desfile das agremiações. Iniciadas nos moldes dos ranchos, as escolas – Mangueira, Portela, Império e Salgueiro e depois Mocidade Independente, Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense – cresceriam até dominar o carnaval transformando-se em show bizz, com forte impacto no movimento turístico.

As concentrações urbanas que provocaram o aparecimento das primeiras danceterias populares, as gafieiras, também produzem seu estilo próprio, o samba-choro ou samba de gafieira, crivado de síncopas. Viceja ainda desde a década de 30, o samba de breque – com pausas preenchidas por falas – que consagraria o personagem malandro criado por Moreira da Silva e o samba canção, mais lento, a partir de Ai Ioiô (Linda flor) por Araci Cortes, em 1929, posteriormente influenciado pelo bolero com enredos sentimentais de que seria expoente o gaúcho Lupicínio Rodrigues. Em outras praças, como São Paulo, onde pontificaria o satírico Adoniran Barbosa, ou Bahia, terra dos enredos tristes de Batatinha, o samba incorporava sotaques regionais.

Após a Segunda Guerra, a influência cultural americana motiva o aparecimento da bossa nova, um modo diferente de dividir o fraseado do samba, agregando influências do impressionismo erudito e do jazz, inaugurado por João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, após precursores como Johnny Alf, João Donato e músicos como Luís Bonfá e Garoto. O gênero teria toda uma geração de discípulos-cultores como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Durval Ferreira e grupos como Tamba Trio, Bossa 3, Zimbo Trio e os pioneiros vocais Os Cariocas. Na mesma época um ramal popular turbinado conhecido por sambalanço projetava o teleco-teco de Elza Soares, Miltinho, Luis Bandeira, Ed Lincoln, Luis Antonio, Djalma Ferreira e vários. Dissidências internas na bossa geraram os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Além disso, parte do movimento (re)aproximou-se do samba tradicional, revalorizando sambistas ditos "de morro" como o portelense Zé Kéti, Cartola, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros e mais adiante Candeia, Monarco, Monsueto e o iniciante Paulinho da Viola.

O show Rosa de Ouro, do produtor Hermínio Bello de Carvalho, revela, além da dama do teatro de revista Araci Cortes, Clementina de Jesus, elo perdido das origens afro do samba. A exemplo de seu xará Paulo Benjamim de Oliveira da mesma escola Portela – que intermediou as relações do morro com a cidade quando o samba era perseguido – Paulinho da Viola, com sua pegada autoral mesclada ao choro, se transformaria num embaixador do gênero tradicional diante do público mais vanguardista, incluindo os tropicalistas. Também no interior da bossa apareceria um modificador do samba, Jorge Ben com seu estilo "misto de maracatu" e uma inclinação para o rhythm & blues americano, que mais adiante suscitaria o aparecimento de um subgênero apelidado suíngue.

Hora da revalorização 

A princípio afastado do foco principal na era universitária dos festivais, o gênero teria sua revanche num certame específico, a Bienal do Samba e veria no final dos 60 o aparecimento do divisor de águas Martinho da Vila. Além de popularizar o partido-alto (Casa de Bamba, Pequeno Burguês), este fluminense de Duas Barras compactou o samba-enredo – forma consagrada por autores como Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola – ampliando sua potencialidade no mercado. No começo dos 70, novo surto de revalorização do samba projetaria com altas vendagens três divas Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes, além do cantor Roberto Ribeiro e dos compositores João Nogueira, Nei Lopes e Wilson Moreira. Descendente dos estilos de violão de Gilberto Gil (que endereçou o petardo Aquele Abraço para a ditadura) , Baden Powell e Dorival Caymmi, João Bosco em dupla com o poeta Aldir Blanc, renovaria o samba tradicional (inclusive o de enredo), algo que Aldir continuaria a fazer com novos parceiros como Guinga e Moacyr Luz, na década de 90. Ainda no fim dos 70, Beth Carvalho começaria a freqüentar rodas de samba do bloco Cacique de Ramos, onde descobriria o emergente movimento do pagode, desvelado em seu disco De Pé no Chão, de 1978.

Este ramal do samba, movido a partido-alto, pontuado pelo banjo e pela percussão do tantan, seria uma resposta ao ocaso do samba no início dos 80 que obrigaria os participantes a reunirem-se em fundos de quintal para mostrar suas novas composições diante de uma platéia de vizinhos. Os primeiros discos solos desses pagodeiros saíram em plena redistribuição de renda do Plano Cruzado e projetaram de imediato as artes de Zeca Pagodinho (o único que se firmaria ao fim da onda inicial), Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra e o Grupo Fundo de Quintal, que revelaria ainda a dupla Arlindo Cruz e Sombrinha. Também partideiro, o pernambucano Bezerra da Silva nesse mesmo período emplacaria seus sambandidos com enredos que documentam a guerra civil da sociedade partida.

O rótulo pagode seria usado também na década seguinte para denominar uma espécie de samba-pop inspirado na balada romântica que geraria – a partir do sucesso de grupos como o Raça Negra, Negritude Jr., Art Popular e Só Pra Contrariar – o aparecimento de um número incalculável de clones com diferentes graduações de proximidade com o samba de raiz. O tronco principal, no entanto, sobrevive alimentado pela revalorização de antigos bambas ainda em atividade como Nelson Sargento, Monarco, Noca da Portela, Wilson das Neves, Walter Alfaiate e as Velhas Guardas da Portela (vide o recente disco Tudo Azul produzido por Marisa Monte) e Mangueira, além do trabalho persistente de ativistas como Nei Lopes, Luis Carlos da Vila e Wilson Moreira.


Músicas 

Pelo Telefone (Donga/ Mauro de Almeida) – Baiano
Batuque na Cozinha (João da Baiana) – João da Baiana
Jura (Sinhô) – Mário Reis
Ai, Ioiô (Linda flor) (Henrique Vogeler/ Marques Porto/ Luis Peixoto) – Araci Cortes
Arrasta a Sandália (Baiaco/ Aurélio Gomes) – Moreira da Silva
Agora É Cinza (Bide/ Marçal) – Mário Reis
Se Você Jurar (Ismael Silva/ Newton Bastos/ Francisco Alves) – Francisco Alves e Mário Reis
Feitiço da Vila (Noel Rosa/ Vadico) – Aracy de Almeida
O Que É Que a Baiana Tem? (Dorival Caymmi) – Carmen Miranda e Dorival Caymmi
Praça Onze (Herivelto Martins/ Grande Otelo) – Trio de Ouro
Ai, Que Saudades da Amélia (Ataulfo Alves/ Mário Lago) – Ataulfo Alves
Juramento Falso (Pedro Caetano) – Silvio Caldas e Elizeth Cardoso
Acertei no Milhar (Wilson Batista/ Geraldo Pereira) – Moreira da Silva
Escurinho (Geraldo Pereira) – Cyro Monteiro
Quem Me Vê Sorrir (Cartola/ Carlos Cachaça) – Cartola
Aquarela do Brasil (Ary Barroso) – Francisco Alves
Brasa (Lupicínio Rodrigues) – Orlando Silva
A Flor e o Espinho (Nelson Cavaquinho/ Guilherme de Brito) – Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito
A Voz do Morro (Zé Kéti) – Jorge Goulart
Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa) – Demônios da Garoa
Mora na Filosofia (Monsueto Menezes/ Arnaldo Passos) – Marlene
Samba do Avião (Tom Jobim) – Os Cariocas
Cadê Tereza? (Jorge Ben) – Jorge Ben e Originais do Samba
Canto de Ossanha (Baden Powell/ Vinicius de Moraes) – Elis Regina
Aquele Abraço (Gilberto Gil) – Gilberto Gil
Heróis da Liberdade (Silas de Oliveira/ Mano Décio/ Manoel Ferreira) – Roberto Ribeiro
Cântico à Natureza (Nelson Sargento/ Jamelão/ A. Lourenço) – Jamelão
Foi um Rio que Passou em Minha Vida (Paulinho da Viola) – Paulinho da Viola
Casa de Bamba (Martinho da Vila) – Martinho da Vila
Pressentimento (Elton Medeiros/ Hermínio Bello de Carvalho) – Elza SoaresBrasil Pandeiro (Assis Valente) – Novos Baianos
Mestre-Sala dos Mares(João Bosco/ Aldir Blanc) – João Bosco
O Mar Serenou (Candeia) – Clara Nunes
Gostoso Veneno (Wilson Moreira/ Nei Lopes) – Alcione
Clube do Samba (João Nogueira) – João Nogueira
Sonho Meu (D. Ivone Lara/ Delcio Carvalho) - Clementina de Jesus e D. Ivone Lara
Vou Festejar (Jorge Aragão/ Neoci/ Dida) – Beth Carvalho
Cidade do Pé Junto (Zeca Pagodinho/ Beto Sem Braço) – Zeca Pagodinho
Candidato Caô Caô (Pedro Butina/ Walter Meninão) – Bezerra da Silva
Catavento e Girassol (Guinga/ Aldir Blanc) – Leila Pinheiro 













Soul Brasil

Assim como o rock, a soul music de nomes como James Brown, Otis Redding e Aretha Franklin também teve grande penetração no cenário da música brasileira dos anos 60. Traços do balanço negro americano podem ser detectados em algumas das primeiras músicas de Jorge Ben Jor (Agora Ninguém Mais Chora, Negro É Lindo, Que Nega É Essa) e, mais flagrantemente, em outras de Wilson Simonal na fase Pilantragem (caso deMamãe Passou Açúcar em MimPaís Tropical, Tributo a Martin Luther King). No entanto, foi um dos companheiros de Ben Jor na turma roqueira da Rua do Matoso, na Tijuca (onde também apareceram Roberto e Erasmo Carlos) quem iria iniciar a saga do soul brasileiro: Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia.

Aos 17 anos de idade, em 1959, Tim embarcou para os Estados Unidos, onde se enfronhou na black music, chegando a participar do grupo The Ideals. Já aqui, começou a compor no estilo da soul music que havia ouvido na América. Logo sua fama começou a correr e, em 1969, Elis gravou em dueto These Are The Songs (uma das várias canções que Tim tinha escrito em inglês), que saiu no disco Em Pleno Verão. Em 1970, ele gravou seu primeiro disco, Tim Maia, um dos maiores sucessos do ano, amparado em músicas suas como Azul da Cor do Mar, uma baião soulidificado (Coroné Antônio Bento, de Luís Wanderley e João do Vale) e Primavera, composição de um futuro gigante da soul music brasileira: Genival Cassiano. Paraibano, ele começou tocando violão no Bossa Trio, que deu origem ao grupo vocal Os Diagonais, que se empenhava na mistura de soul e samba na virada dos 60 para os 70. Sua carreira solo começou em 1971, com o LP Cassiano, Imagem e Som.

Ainda em 1970, a soul music brasileira explodiria no V Festival Internacional da Canção, com a vitória, na fase nacional, de BR-3, canção de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defendida por Toni Tornado, que seguiria como intérprete, em discos sempre sob a bandeira da black music. Tim Maia, por sua vez, iria década adentro enfileirando sucessos, como Não Quero Dinheiro (só quero amar), Réu Confesso e Gostava Tanto de Você. Cassiano emplacou duas: A Lua e Eu e Coleção, parcerias com o guitarrista Paulo Zdanowski. Já em 1975, apareceria a terceira grande força do soul brasileiro, ao lado de Tim e Cassiano: o baiano Hyldon, que estourou a sua balada Na Chuva, Na Rua, Na Fazenda, faixa-título de seu primeiro disco, que ainda deu os sucessosNa Sombra de uma Árvore e As Dores do Mundo.

Discípulos do funk

Quase toda ela baseada no Rio de Janeiro, a turma do soul brazuca dos 70, já tingida pelas cores mais fortes do funk e do movimento black powerfloresceu e revelou nomes como o do pernambucano Paulo Diniz (I Want To Go Back To Bahia), de Gerson King Combo (ex-dançarino, irmão do grande compositor da Jovem Guarda, Getúlio Côrtes, e espécie de James Brown nacional, com as músicas Mandamentos Black e O Rei Morreu (Viva o Rei)) e de Carlos Dafé (Pra que Vou Recordar o que Chorei), Robson Jorge e Miguel de Deus (do disco Black Soul Brothers). Por outro lado, a MPB também absorveu as influências do funk-soul, em trabalhos como Black Is Beautiful eMentira, gravados pelo bossanovista Marcos Valle, e no samba-soul de Jorge Ben Jor, Bebeto e Trio Mocotó. Ivan Lins, alguns hão de lembrar, começou sua carreira nessa época desfilando o mais inconfundível acento soul, em músicas como O Amor É Meu País.

Mais para o fim dos anos 70, o fenômeno dos bailes black nos subúrbios cariocas deu origem a um movimento de afirmação da negritude via James Brown que ficou conhecido como Black Rio. Ele acabou por batizar uma banda formada por músicos oriundos dos grupos Impacto 8 e Abolição (que, sob a batuta do pianista Dom Salvador, fez soul music brasileira no começo dos 70), interessados em dar um toque de gafieira ao funk, soul e jazz importados. O LP Maria Fumaça, de 1977, marcou a estréia da Banda Black Rio, cuja empolgante sonoridade transformou-se em objeto de culto na cenaacid jazz inglesa da metade dos anos 90.

Enquanto isso, na matriz, a virulência do funk começava a ser substituída por uma versão amenizada da black music, feita para as pistas dos clubs e para o consumo de massa, sem sombra de pregação racial. Era a discoteque, de Donna Summer, Chic e Earth Wind & Fire, que teve sua melhor tradução no Brasil com as Frenéticas, atrizes-cantoras arregimentadas pelo produtor e compositor Nelson Motta para trabalharem como garçonetes da sua casa Dancin' Days. A casa deu título a uma novela, cuja música-tema, cantada pelo grupo, detonou a onda disco no Brasil. Outra diva disco made in Brazil foi Lady Zu (Zuleide), paulistana (São Paulo, por sinal, também teve uma forte cenablack) que estourou com a música A Noite Vai Chegar. Na mesma onda, embarcaram o insuspeito Gilberto Gil (no bem-sucedido LP Realce), Tim Maia (em Tim Maia Disco Club, que trouxe a música Sossego) e o produtor e tecladista Lincoln Olivetti (mentor do som funk-pop de Realce e de tantos outros discos da MPB), que gravou com Robson Jorge a música Aleluia, grande sucesso nas rádios.

Os anos 80 começaram com uma revelação do soul brasileiro: no Festival MPB-80 da TV Globo, a carioca Sandra (de) Sá ganhou projeção nacional ao defender a música Demônio Colorido e, no mesmo ano, gravou seu primeiro disco. Seguiriam-se ao longo dos 80 sucessos como Olhos ColoridosVale Tudo (antológico dueto com Tim Maia), o samba soul Enredo do Meu Samba(Dona Ivone Lara e Jorge Aragão) e Joga Fora (de Michael Sullivan e Paulo Massadas).

Embora inicialmente englobado no movimento roqueiro, a banda Brylho (de A Noite do Prazer) foi outra revelação do soul brasileiro do começo dos 80. Em suas hostes, estavam um parceiro (Paulo Zdanowski) e um discípulo (o guitarrista e vocalista Claudio Zoli) de Cassiano. Em 1986, Zoli iniciaria uma carreira solo, que o tornou um dos grandes batalhadores da soul music nacional, ao lado de Sandra e Tim Maia, que continuou sua trajetória com sucessos, uns mais dançantes (Descobridor dos Sete MaresDo Leme ao Pontal), outros mais românticos (Me Dê MotivoTelefone). Outra banda do Rock Brasil dos anos 80 que fez do soul a sua base foi a paulistana Skowa e a Máfia.

A nova geração 

Grande conhecedor de rock, funk e soul music, o adolescente tijucano (e sobrinho de Tim Maia) Ed Motta passou boa parte da década de 80 talhando sua voz para o estrelato. Com o amigo guitarrista Luís Fernando, montou a banda Expresso Realengo, prontamente rebatizada de Conexão Japeri. Contratada por uma gravadora, ela gravou em 1988 (quando Ed ainda tinha 16 anos de idade) o disco Ed Motta & Conexão Japeri, que deu para as rádios balanços certeiros como Manoel e Vamos Dançar e iniciaram um novo capítulo no soul brasileiro. Afastado do Conexão, Ed sofisticou sua receita soul e gravou só com o baixista Bombom o seu segundo disco, Um Contrato com Deus, com faixas em português (Condição) e inglês (Do You Have Other Loves?).

Ed morou algum tempo em Nova Iorque, onde gravou um disco que não foi lançado (em estilo totalmente americano) e, paradoxalmente, começou a se aproximar da música brasileira (que costumava rejeitar). Em 1992, o cantor gravou o jazzístico e retrô Entre e Ouça, um fracasso comercial no qual foi incorporada mais uma língua às canções: o edmottês, que surgia quando ele tentava letrar seus scats. A primeira mostra da assimilação da música brasileira (de compositores harmonicamente sofisticados, como Tom Jobim, Edu Lobo e Guinga) foi na canção Falso Milagre do Amor, tema de abertura do filme Pequeno Dicionário Amoroso (1997), de Sandra Werneck. No mesmo ano, Ed Motta lançou o disco Manual Prático Para Bailes, Festas e Afins Vol. 1, no qual ele conseguiu enfim aliar a elaboração musical ao apelo popular – músicas como Fora da Lei, Daqui Pro Méier e Vendaval ajudaram-no a fazer as pazes com o sucesso.

Ed Motta reinou nos anos 90 – e levou adiante o cetro do tio, que morreu em 1998 –, mas uma série de nomes não deixaram que o Soul Brasil ficasse como monopólio. Caso de Sandra de Sá (que lançou o disco tributo a Tim, Eu Sempre Fui Sincero e Você Sabe Muito Bem), Conexão Japeri (que ainda gravou dois discos sem Ed), Edmon Costa, Zé Ricardo, As Sublimes, Ebony Vox, Lúci e Léo M (filho adotivo de Tim Maia), só para ficarmos com os cariocas. Ainda no Rio, surgiu no começo da década uma vertente mais melódica, de inspiração soul, do rap Miami Bass tocado nos bailes funk. Batizada de Funk Melody, ela revelou nomes como Latino, Claudinho & Buchecha, Copacabana Beat e Marcinho & Goró.

O soul-funk carioca tornou-se quase um subgênero nos anos 90, servindo de base para trabalhos de artistas gestados no cenário do pop-rock 80, como a ex-Blitz Fernanda Abreu (uma espécie de rainha samba-funk-disco extemporânea) e Lulu Santos (a partir do disco Assim Caminha a Humanidade, de 1994). São Paulo, porém, deu as caras na área soul, em duas vertentes. Uma foi a dos artistas de rap que avançaram pelos terrenos do groove e das melodias: Sampa Crew, Thaíde & DJ Hum e Bennê. Outro, o dos que exploraram as modernidades soul apresentadas por americanos como Prince, TLC, Maxwell e Babyface (num gênero também conhecido como R&B). É o caso de bandas como a Fat Family e artistas como João Marcelo Bôscoli e Pedro Camargo Mariano (filhos de Elis Regina), Maurício Manieri e, fechando o ciclo do soul brasileiro, Max de Castro, filho de Wilson Simonal, que no começo de 2000 lançou o conceitual Samba Raro.


Músicas 

Primavera (Cassiano/ Tim Maia)
Azul da Cor do Mar – Tim Maia
BR-3 (Antônio Adolfo) – Toni Tornado
A Lua e Eu – Cassiano
Gostava Tanto de Você – Tim Maia
Na Chuva, Na Rua, Na Fazenda – Hyldon
Mandamentos Black – Gerson King Combo
Black Is Beautiful – Marcos Valle e Elis Regina
Mr. Funk Samba – Banda Black Rio
Realce – Gilberto Gil
Pra que Vou Recordar o que Chorei – Carlos Dafé
Dancin' Days – Frenéticas/ Lulu Santos
Sossego – Tim Maia/ Defalla
A Noite Vai Chegar – Lady Zu
Olhos Coloridos – Sandra de Sá
A Noite do Prazer – Brylho
Joga Fora – Sandra de Sá
Descobridor dos Sete Mares – Tim Maia/ Lulu Santos
Manuel – Ed Motta
Conquista – Claudinho & Buchecha
Fora da Lei – Ed Motta










Arrocha
O Arrocha é um gênero musical e dança brasileira originário da Bahia.
Ele veio proveniente da seresta, influenciado pela música brega e o estilo romântico, com modificações que o tornaram, segundo seus adeptos, mais sensual. Estilo musical originário da Bahia, nasceu na cidade de Candeias. Não é necessário ser tocado por uma banda completa, normalmente são usados: um teclado arranjador, um saxofone e uma guitarra.


História
Em 2004,o arrocha começou a ganhar espaço em muitas rádios baianas. Porém, surgiu uma grande polêmica na época em relação ao arrocha como "movimento musical", já que continha letras pouco elaboradas.
Algums nomes ajudaram a difundi-lo e hoje são de reconhecimento nacional: Tayrone Cigano, Asas Livres, Grupo Arrocha, Márcio Moreno, Silvanno Salles e a considerada "rainha do arrocha", Nara Costa. As letras tem muito em comum com o Brega, com a adição de sons de Teclado e batidas eletrônicas, e o ritmo faz grande sucesso particularmente nas regiões Norte e Nordeste.
O termo "arrocha" é recente, mas a música em si já existia desde meados dos anos 70, quando admiradores de Odair José, Reginaldo Rossi, Fernando Mendes e Waldick Soriano, na medida em que compravam um teclado eletrônico, passaram a cantar as músicas de seus ídolos em bares e boates, em regiões suburbanas ou interioranas no país.
Após algum anos,apesar ainda continuar firme, o ritmo foi sendo esquecido pela mídia em geral. No final dos anos 90, empresários do ramo musical perceberam no seu grande apelo popular uma grande oportunidade de lucro, e a partir daí surgiu o primeiro ídolo, já nos anos 2000, chamado Lairton, alcunhado de "Lairton e seus teclados", que ficou conhecido com a música "Morango do Nordeste" (apesar da mesma não ser de sua autoria).
Com a simplificação dos sistemas de mixagem e fabricação de CDs,vários grupos menores surgiram,o que ajudou a difundir o "movimento". No entanto, apesar do sucesso nas camadas mais pobres, o Arrocha ainda enfrenta grande preconceito entre a classe média, que simplesmente não a considera um gênero musical por conta de suas composições que constantemente retratam problemas da vida amorosa.

Muitos cantores se destacaram cantando Arrocha, como Tayrone Cigano, Nara Costa , Silvano Salles, Márcio Moreno, Asas Livres, Grupo Arrocha, Trem Xônado, Toque Novo, Latitude 10, Bonde do Maluco, entre outros.











Funk Carioca

O funk carioca é um estilo musical oriundo do Brasil, mais precisamente do Rio de Janeiro. Apesar do nome, é diferente do funk originário dos Estados Unidos. Isso ocorreu, pois a partir dos anos 1970 eram realizados bailes black, soul, shaft ou funk, com o tempo, os DJs foram buscando novos ritmos de música negra, mas o nome original permaneceu. O funk carioca tem uma influência direta do Miami Bass e do Freestyle.
Apesar do crescimento do funk no país, as músicas tendem a ser substituídas rapidamente por outras. As músicas mais famosas fazem sucesso, são executadas à exaustão, porém rapidamente perdem força e caem no esquecimento. Esse fenômeno é o resultado da exploração do mercado da indústria fonográfica, à aceitação conquistada pelo estilo junto aos jovens.
O estilo musical, embora apresente expansão mercadológica, continua sendo alvo de muita resistência e preconceito, sendo bastante criticado por intelectuais e parte da população.
O funk carioca é geralmente criticado por ser pobre em criatividade, por muitas vezes apresentar uma linguagem obscena e vulgar apelando para letras obscenas, com apologia ao crime, drogas e tráfico, e à sexualidade exarcebada, para fazer sucesso.
Grande parte do criticismo vem também da associação do ritmo ao tráfico, pois bailes funk são costumeiramente realizados por traficantes, para atrair consumidores de drogas aos morros. 
Outro problema relatado do funk é o volume no qual costuma ser executado: bailes funk quase sempre não respeitam qualquer limite de decibéis, o que configura outra transgressão à lei.
Em Setembro de 2009 a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou projeto definindo o funk como movimento cultural e musical de caráter popular.









Sertanejo universitário

Sertanejo Universitário provém da música sertaneja, sendo seu terceiro movimento. Canções simples predominam nesse estilo, e por conta dos cantores jovens é considerado "universitário".
De origem pantaneira oriunda do estado do Mato Grosso do Sul, tendo como seus precursores a dupla João Bosco e Vinícius, que em 1994 iniciaram sua carreira tocando em bares para universitarios na capital Campo Grande.
Por surgir após o segundo movimento sertanejo (o Sertanejo Romântico), esse estilo já não conta com letras tão regionais e situações vividas por caipiras (como o Sertanejo Raiz). Geralmente as músicas tratam de assuntos do Sertanejo Romântico da forma como os jovens veem (assuntos como sair com várias mulheres e traição).

Artistas mais conhecidos na categoria:
§  Victor & Leo
§  João Bosco e Vinícius
§  João Neto e Frederico
§  Hugo Pena e Gabriel
§  Jorge e Mateus
§  Fernando e Sorocaba
§  Zé Henrique e Gabriel
§  Hugo e Tiago
§  Maria Cecília & Rodolfo
§  César Menotti e Fabiano
§  Luan Santana
§  Rud & Robson
§  Guto & Nando
§  João Pedro & Cristiano
§  Lucas & Luan
§  Guilherme & Santiago
§  Eduardo Costa















Sertanejo contemporâneo


A(s) música(s) caipira e/ou sertaneja são grupos musicais no Brasil associados à música produzida no país, a partir da década de 1920, por compositores rurais e urbanos, outrora chamada genericamente de modas, toadas, cateretês, chulas, emboladas e batuques, cujo som da viola é predominante.
O folclorista Cornélio Pires conheceu a música caipira, no seu estado original, nas fazendas do interior do Estado de São Paulo e assim a descreveu em seu livro "Conversas ao pé do Fogo":
-"Sua música se caracteriza por suas letras românticas, por um canto triste que comove e lembra a senzala e a tapera" mas sua dança é alegre".
Cornélio Pires em seu livro "Sambas e Cateretês", recolheu letras de música cantadas nas fazendas do interior do estado de São Paulo no início do século XX, antes de existir a música caipira comercial e gravada em discos. Sem o livro "Sambas e Cateretês" estas composições teriam caído no esquecimento.
Inicialmente tal estilo de música foi propagado por uma série de duplas, com a utilização de violas e dueto vocal. Esta tradição segue até os dias atuais, tendo a dupla geralmente caracterizada por cantores com voz tenor (mais aguda), nasal e uso acentuado de um falsete típico. Enquanto o estilo vocal manteve-se relativamente estável ao longo das décadas, o ritmo, a instrumentação e o contorno melódico incorporaram aos poucos elementos de gêneros disseminados pela indústria cultural.

Destacaram-se inicialmente, entre as duplas pioneiras nas gravações em disco, Zico Dias e Ferrinho, Laureano e Soares, Mandi e Sorocabinha e Mariano e Caçula. Foram as primeiras duplas a cantar principalmente as chamadas modas de viola, de temática principalmente ligada à realidade cotidiana - casos de "A Revolução Getúlio Vargas" e "A Morte de João Pessoa", composições gravadas pelo duo Zico Dias e Ferrinho, em 1930, e "A Crise" e "A Carestia", modas de viola gravadas por Mandi e Sorocabinha, em 1934. Gradualmente, as modificações melódicas e temáticas (do rural para o urbano) e a adição de novos instrumentos musicais consolidaram, na década de 1980, um novo estilo moderno da música sertaneja, chamado hoje de "sertanejo romântico" - primeiro gênero de massa produzido e consumido no Brasil, sem o caráter geralmente épico ou satírico-moralista e menos frequentemente, lírico do "sertaneja de raiz".
Tais modificações dentro do gênero musical têm provocado muitas confusões e discussões no país a cerca do que seria música caipira/sertaneja. Críticos literários, críticos musicais, jornalistas, produtores de discos, cantores de duplas sertanejas, compositores e admiradores debatem sobre as quais seriam as formas artísticas de expressão do gênero, que levam em conta as mudanças ocorridas ao longo de sua história. Muitos estudiosos seguem a tendência tradicional de integrar as músicas caipira e sertaneja como sub-gêneros dentro um só conjunto musical, estabelecendo fases e divisões: de 1929 até 1944, como "música caipira" (ou "música sertaneja raiz"); do pós-guerra até a década de 1960, como uma fase de transição da velha música caipira rumo à constituição do atual gênero sertanejo; e do final dos anos sessenta até a atualidade, como música "sertaneja romântica".Outros no meio acadêmico, no entanto, consideram "música caipira" e "música sertaneja" gêneros completamente independentes, baseado na ideia de que a primeira seria a música rural autêntica e/ou do homem rural autêntico, enquanto a segunda seria aquela feita, como "produto de consumo", nos grandes centros urbanos brasileiros por não-caipiras. Outros autores estendem o conceito de música caipira/sertaneja ao baião, ao xaxado e outros ritmos do interior do Norte e Nordeste.














Samba reggae
Samba-reggae é um gênero musical nascido no estado da [[Bahia].
O samba-reggae, nasceu da difusão do Samba Duro (uma variante do Samba de Roda) com o Reggae apresentando dois tambores, um pandeiro, um atabaque, uma guitarra ou viola eletrônica no lugar do cavaquinho e instrumentos de música latina, com forte influências do Merengue, da Salsa e de candomblé.
O samba-reggae surgiu entre 1998 e 2000 na Bahia a partir de manifestações musicais de Margareth Menezes e Daniela Mercury, cantoras famosas de Axé Music e da antiga mistura entre olodum e reggae, que não foi muito para frente, além do Terra Samba. Entre 2002 e 2003 músicos como o Armandinho e o grupo Só Pra Contrariar lançaram seus CDs que continham Samba Reggae.
Nas temporadas de verão de 2003 esses músicos fizeram grandes apresentações ao vivo deste novo estilo músical, derivado do Samba. Por volta de 2004 o novo gênero musical chegou no Sudeste, passando pelo Rio de Janeiro, época em que o grupo Cidade Negra lançou famosas músicas do gênero como seu principal estilo. Em 2006 o antigo grupo de Partido alto e Axé Music, Inimigos da HP, laçou se CD ao vivo gravado em algumas praias do Brasil apresentando alguns hit's renovadores de Samba Reggae, mas ainda mantém o Pagode como principal estilo da banda.









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