O cenário poderá não ser tão bom como agora para o Brasil ou para a presidente recém-eleita, Dilma Rousseff.
A candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu uma vitória fácil na eleição de domingo, graças à ampla satisfação dos eleitores com o crescimento econômico, atualmente num ritmo de 7 por cento ao ano.
Ainda assim, ela alertou que esse crescimento pode não durar. Em vez disso, os quatro anos de mandato de Dilma parecem destinados a uma expansão mais moderada que seja suficiente para cumprir a promessa dela de tirar milhões de brasileiros da pobreza, mas frustrar investidores que querem ver mais taxas de crescimento chinesas.
Os dois principais obstáculos devem ser gargalos na infraestrutura do Brasil e a relutância de Dilma de promover grandes reformas nas áreas tributária, fiscal e trabalhista, que poderiam reduzir significativamente o chamado "custo Brasil".
Dilma e seus assessores disseram que simplesmente não veem necessidade de grandes mudanças em uma economia que tem vários fatores a seu favor: alta na confiança do consumidor, baixa recorde no desemprego, demografia favorável e recursos do petróleo descoberto na camada pré-sal.
Essa abordagem conservadora, que um assessor de primeiro escalão chamou de "piloto automático", é parte do reconhecimento de que Dilma não terá a mesma força política de Lula, cujo sucesso foi construído graças à manutenção da política econômica.
Ainda assim, ela corre o risco de ter seu governo definido pela frase: "Não tão bom quanto o de Lula".
"Esperamos prosperidade no Brasil agora, mas as pessoas esqueceram que não é sempre fácil fazer a economia crescer", disse José Gomes, dono de uma pequena fábrica nos arredores de São Paulo que produz chapas de metal.
"Se o crescimento desacelerar, as pessoas não vão entender por que (Dilma) não consegue fazer ir mais rápido, como Lula fez", disse.
Durante a campanha, Dilma parecia ciente dos riscos de criar expectativas altas demais para Wall Street ou para os eleitores brasileiros, ao mesmo tempo que tentou se alavancar com o crescimento econômico e o apoio de Lula.
Em discurso de campanha em Juiz de Fora (MG) em setembro, ela anunciou um plano para "manter o Brasil crescendo a 7 por cento".
Mas em entrevista de bastidores à Reuters logo depois, ela foi mais cautelosa, disse que, em média, o crescimento será perto de 5 por cento durante seu governo. "Isso seria mais razoável", disse.
CRESCIMENTO FORTE, MAS ABAIXO DO POTENCIAL
Mesmo essa previsão pode ser otimista demais.
Durante os oito anos de governo Lula, o Brasil cresceu em média cerca de 4 por cento, com uma crise financeira em seu primeiro ano e a crise global de 2008 e 2009 contrastando com vários anos de rápida expansão.
Mas havia ventos favoráveis ao Brasil neste período, incluindo alta nos preços das commodities comercializadas pelo país, um cenário global no geral favorável e uma alta na demanda após duas décadas de estagnação econômica.
A expressiva taxa de crescimento observada neste ano ocorreu largamente por conta da expansão do crédito promovida pelos bancos estatais e a elevação dos gastos orçamentárias em um ano eleitoral, o que deixou para trás um caos fiscal sobre o qual Dilma terá de trabalhar no início de seu mandato.
A economia global impõe riscos mais óbvios. E até mesmo a popularidade do Brasil entre os investidores tornou-se uma faca de dois gumes, pois o gigantesco fluxo de capital provoca a sobrevalorização do real, o que prejudica os exportadores.
Dilma ajudou a amenizar essas preocupações no primeiro discurso que fez depois de eleita na noite de domingo, quando prometeu controlar o gasto público e reduzir a carga tributária, atualmente em 34,4 por cento do Produto Interno Bruto.
Ainda assim, isso não seria o suficiente para manter o aquecimento econômico registrado no último ano do governo Lula.
"O crescimento potencial deve ficar em cerca de 4 a 5 por cento pelo futuro previsível", disse a Capital Economics em relatório nesta segunda-feira. "Mas na verdade, é uma oportunidade perdida."
Em consonância com outros investidores, a Capital Economics afirmou que um crescimento de 6 a 7 por cento é possível, caso Dilma se comprometa com as reformas estruturais que permitiriam que os recursos públicos e privados fluam para áreas mais produtivas, como infraestrutura e educação.
Tais investimentos são particularmente cruciais para o Brasil, no momento em que o país se prepara para a Copa do Mundo de 2014, para a Olimpíada de 2016 e para melhorar portos, aeroportos e rodovias.
Dilma descartou realizar uma ampla reforma fiscal, alegando não considerar necessário num momento de crescimento econômico e em que as contas públicas estão, no que ela considera, um bom estado.
Em vez disso, Dilma parece dar sinais de que seguirá com a estratégia que a trouxe até aqui: uma continuação das políticas de Lula para o bem e para o mal.
"Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico", disse ela em seu discurso na noite de domingo.